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Astronomia
Astronomia Astronomia é uma ciência natural que estuda corpos celestes (como estrelas, planetas, cometas, nebulosas, aglomerados de estrelas, galáxias) e fenômenos que se originam fora da atmosfera da Terra (como a radiação cósmica de fundo em micro-ondas). Preocupada com a evolução, a física e a química de objetos celestes, bem como a formação e o desenvolvimento do universo. A astronomia é uma das mais antigas ciências. Culturas pré-históricas deixaram registrados vários artefatos astronômicos, como Stonehenge, os montes de Newgrange e os menires. As primeiras civilizações, como os babilônios, gregos, chineses, indianos, persas e maias realizaram observações metódicas do céu noturno. No entanto, a invenção do telescópio permitiu o desenvolvimento da astronomia moderna. Historicamente, a astronomia incluiu disciplinas tão diversas como astrometria, navegação astronômica, astronomia observacional e a elaboração de calendários. Durante o período medieval, seu estudo era obrigatório e estava incluído no "Quadrivium" que, junto com o "Trivium", compunha a metodologia de ensino das sete Artes liberais. Durante o século XX, o campo da astronomia profissional dividiu-se em dois ramos: a astronomia observacional e a astronomia teórica. A primeira está focada na aquisição de dados a partir da observação de objetos celestes, que são então analisados utilizando os princípios básicos da física. Já a segunda é orientada para o desenvolvimento de modelos analíticos que descrevem objetos e fenômenos astronômicos. Os dois campos se complementam, com a astronomia teórica procurando explicar os resultados observacionais, bem com as observações sendo usadas para confirmar (ou não) os resultados teóricos. Os astrônomos amadores têm contribuído para muitas e importantes descobertas astronômicas. A astronomia é uma das poucas ciências onde os amadores podem desempenhar um papel ativo, especialmente na descoberta e observação de fenômenos transitórios. A Astronomia não deve ser confundida com a astrologia, sistema de crença que afirma que os assuntos humanos, como a personalidade, estão correlacionados com as posições dos objetos celestes. Embora os dois campos compartilhem uma origem comum, atualmente eles estão totalmente distintos. História. Inicialmente, a astronomia envolveu somente a observação e a previsão dos movimentos dos objetos no céu que podiam ser vistos a olho nu. O Rigveda refere-se aos 27 asterismos ou "nakshatras" associados aos movimentos do Sol e também às doze divisões zodiacais do céu. Durante milhares de anos, as pessoas investigaram o espaço e a situação da Terra. No ano 4000 a.C., os egípcios desenvolveram um calendário baseado no movimento dos objetos celestes. A observação dos céus levou à previsão de eventos como os eclipses. Os antigos gregos fizeram importantes contribuições para a astronomia, entre elas a definição de magnitude aparente. A Bíblia contém um número de afirmações sobre a posição da Terra no universo e sobre a natureza das estrelas e dos planetas, a maioria das quais são poéticas e não devem ser interpretadas literalmente; ver Cosmologia bíblica. Nos anos 500, Aryabhata apresentou um sistema matemático que considerava que a Terra rodava em torno do seu eixo e que os planetas se deslocavam em relação ao Sol. O estudo da astronomia quase parou durante a Idade Média, à exceção do trabalho dos astrónomos árabes. No final do século IX, o astrónomo árabe ou persa al-Farghani (Abu'l-Abbas Ahmad ibn Muhammad ibn Kathir al-Farghani) escreveu extensivamente sobre o movimento dos corpos celestes. No século XII, os seus trabalhos foram traduzidos para o latim, e diz-se que Dante aprendeu astronomia pelos livros de al-Farghani. No final do século X, um observatório enorme foi construído perto de Teerã, Irã, pelo astrônomo al-Khujandi, que observou uma série de trânsitos meridianos do Sol, que permitiu-lhe calcular a obliquidade da eclíptica, também conhecida como a inclinação do eixo da Terra relativamente ao Sol. Como sabe-se hoje, a inclinação da Terra é de aproximadamente 23°34', e al-Khujandi mediu-a como sendo 23°32'19". Usando esta informação, compilou também uma lista das latitudes e das longitudes de cidades principais. Omar Khayyam (Ghiyath al-Din Abu'l-Fath Umar ibn Ibrahim al-Nisaburi al-Khayyami) foi um grande cientista, filósofo e poeta persa que viveu de 1048 a 1131. Compilou muitas tabelas astronômicas e executou uma reforma do calendário que era mais exato do que o Calendário Juliano e se aproximava do Calendário Gregoriano. Um feito surpreendente era seu cálculo do ano como tendo 365,24219858156 dias, valor esse considerando a exatidão até a sexta casa decimal se comparado com os números de hoje, indica que nesses mil anos pode ter havido algumas alterações na órbita terrestre. Durante o Renascimento, Copérnico propôs um modelo heliocêntrico do Sistema Solar. No século XIII, o imperador Hulagu, neto de Gengis Khan e um protetor das ciências, havia concedido ao conselheiro Nasir El Din Tusi autorização para edificar um observatório considerado sem equivalentes na época. Entre os trabalhos desenvolvidos no observatório de Maragheh e a obra "De Revolutionibus Orbium Caelestium" de Copérnico, há algumas semelhanças que levam os historiadores a admitir que este teria tomado conhecimento dos estudos de Tusi, através de cópias de trabalhos deste existentes no Vaticano. O modelo heliocêntrico do Sistema Solar foi defendido, desenvolvido e corrigido por Galileu Galilei e Johannes Kepler. Kepler foi o primeiro a desenvolver um sistema que descrevesse corretamente os detalhes do movimento dos planetas com o Sol no centro. No entanto, Kepler não compreendeu os princípios por detrás das leis que descobriu. Estes princípios foram descobertos mais tarde por Isaac Newton, que mostrou que o movimento dos planetas se podia explicar pela Lei da gravitação universal e pelas leis da dinâmica. Constatou-se que as estrelas são objetos muito distantes. Com o advento da Espectroscopia provou-se que são similares ao nosso próprio Sol, mas com uma grande variedade de temperaturas, massas e tamanhos. A existência de nossa galáxia, a Via Láctea, como um grupo separado das estrelas foi provada somente no século XX, bem como a existência de galáxias "externas", e logo depois, a expansão do universo dada a recessão da maioria das galáxias de nós. A Cosmologia fez avanços enormes durante o século XX, com o modelo do Big Bang fortemente apoiado pelas evidências fornecidas pela Astronomia e pela Física, tais como a radiação cósmica de micro-ondas de fundo, a Lei de Hubble e a abundância cosmológica dos elementos. Campos. Por ter um objeto de estudo tão vasto, a astronomia é dividida em muitas áreas. Uma distinção principal é entre a astronomia "teórica" e a "observacional". "Observadores" usam vários meios para obter dados sobre diversos fenômenos, que são usados pelos "teóricos" para criar e testar teorias e modelos, para explicar observações e para prever novos resultados. O observador e o teórico não são necessariamente pessoas diferentes e, em vez de dois campos perfeitamente delimitados, há um contínuo de cientistas que põem maior ou menor ênfase na observação ou na teoria. Os campos de estudo podem também ser categorizados quanto: Enquanto a primeira divisão se aplica tanto a observadores como também a teóricos, a segunda se aplica a observadores, pois os teóricos tentam usar toda informação disponível, em todos os comprimentos de onda, e observadores frequentemente observam em mais de uma faixa do espectro. Astronomia observacional. Na astronomia, a principal forma de obter informação é através da detecção e análise da luz visível ou outras regiões da radiação eletromagnética. Mas a informação é adquirida também por raios cósmicos, neutrinos, e, no futuro próximo, ondas gravitacionais (veja LIGO e LISA). Uma divisão tradicional da astronomia é dada pela faixa do espectro eletromagnético observado. Algumas partes do espectro podem ser observadas da superfície da Terra, enquanto outras partes só são observáveis de grandes altitudes ou no espaço. Radioastronomia. A radioastronomia estuda a radiação com comprimento de onda maior que aproximadamente 1 milímetro. A radioastronomia é diferente da maioria das outras formas de astronomia observacional pelo fato de as ondas de rádio observáveis poderem ser tratadas como ondas ao invés de fótons discretos. Com isso, é relativamente mais fácil de medir a amplitude e a fase das ondas de rádio. Apesar de algumas ondas de rádio serem produzidas por objetos astronômicos na forma de radiação térmica, a maior parte das emissões de rádio que são observadas da Terra são vistas na forma de radiação síncrotron, que é produzida quando elétrons ou outras partículas eletricamente carregadas descrevem uma trajetória curva em um campo magnético. Adicionalmente, diversas linhas espectrais produzidas por gás interestelar, notadamente a linha espectral do hidrogênio de 21 cm, são observáveis no comprimento de onda de rádio. Uma grande variedade de objetos são observáveis no comprimento de onda de rádio, incluindo supernovas, gás interestelar, pulsares e núcleos de galáxias ativas. Astronomia infravermelha. A astronomia infravermelha lida com a detecção e análise da radiação infravermelha, cuja frequência é menor do que a da luz vermelha. Exceto por comprimentos de onda mais próximas à luz visível, a radiação infravermelha é na maior parte absorvida pela atmosfera, e a atmosfera produz emissão infravermelha numa quantidade significante. Consequentemente, observatórios de infravermelho precisam estar localizados em lugares altos e secos, ou no espaço. O espectro infravermelho é útil para estudar objetos que são muito frios para emitir luz visível, como os planetas e discos circunstrelares. Comprimentos de onda infravermelha maior podem também penetrar nuvens de poeira que bloqueiam a luz visível, permitindo a observação de estrelas jovens em nuvens moleculares e o centro de galáxias. Algumas moléculas radiam fortemente no infravermelho, e isso pode ser usado para estudar a química no espaço, assim como detectar água em cometas. Astronomia óptica. Historicamente, a astronomia óptica (também chamada de astronomia da luz visível) é a forma mais antiga da astronomia. Imagens ópticas eram originalmente desenhadas à mão. No final do século XIX e na maior parte do século XX as imagens eram criadas usando equipamentos fotográficos. Imagens modernas são criadas usando detectores digitais, principalmente detectores usando dispositivos de cargas acoplados (CCDs). Apesar da luz visível estender de aproximadamente Å até Å (400 nm até 700 nm), o mesmo equipamento usado nesse comprimento de onda é também usado para observar radiação de luz visível próxima a ultravioleta e infravermelho. Astronomia ultravioleta. A astronomia ultravioleta é normalmente usada para se referir a observações no comprimento de onda ultravioleta, aproximadamente entre 100 e Å (10 e 320 nm). A luz nesse comprimento de onda é absorvida pela atmosfera da Terra, então as observações devem ser feitas na atmosfera superior ou no espaço. A astronomia ultravioleta é mais utilizada para o estudo da radiação térmica e linhas de emissão espectral de estrelas azul quente (Estrela OB) que são muito brilhantes nessa banda de onda. Isso inclui estrelas azuis em outras galáxias, que têm sido alvos de várias pesquisas nesta área. Outros objetos normalmente observados incluem a nebulosa planetária, remanescente de supernova, e núcleos de galáxias ativas. Entretanto, a luz ultravioleta é facilmente absorvida pela poeira interestelar, e as medições da luz ultravioleta desses objetos precisam ser corrigidas. Astronomia de raios-X. A astronomia de raio-X é o estudo de objetos astronômicos no comprimento de onda de raio-X. Normalmente os objetos emitem radiação de raio-X como radiação síncrotron (produzida pela oscilação de elétrons em volta de campos magnéticos), emissão termal de gases finos (chamada de radiação Bremsstrahlung) maiores que 107 kelvin, e emissão termal de gases grossos (chamada radiação de corpo negro) maiores que 107 kelvin. Como os raio-X são absorvidos pela atmosfera terrestre todas as observações devem ser feitas de balões de grande altitude, foguetes, ou naves espaciais. Fontes de raio-X notáveis incluem binário de raio X, pulsares, remanescentes de supernovas, galáxias elípticas, aglomerados de galáxias e núcleos galácticos ativos. Astronomia de raios gama. A astronomia de raios gama é o estudo de objetos astronômicos que usam os menores comprimentos de onda do espectro eletromagnético. Os raios gama podem ser observados diretamente por satélites como o observatório de raios Gama Compton ou por telescópios especializados chamados Cherenkov. Os telescópios Cherenkov não detectam os raios gama diretamente mas detectam flashes de luz visível produzidos quando os raios gama são absorvidos pela atmosfera da Terra. A maioria das fontes emissoras de raio gama são na verdade Erupções de raios gama, objetos que produzem radiação gama apenas por poucos milissegundos a até milhares de segundos antes de desaparecerem. Apenas 10% das fontes de raio gama são fontes não transcendentes, incluindo pulsares, estrelas de nêutrons, e candidatos a buracos negros como núcleos galácticos ativos. Campos não baseados no espectro eletromagnético. Além da radiação eletromagnética outras coisas podem ser observadas da Terra que se originam de grandes distâncias. Na Astronomia de neutrinos, astrônomos usam laboratórios especiais subterrâneos como o SAGE, GALLEX e Kamioka II/III para detectar neutrinos. Esses neutrinos se originam principalmente do Sol, mas também de supernovas. Raios cósmicos consistindo de partículas de energia muito elevada podem ser observadas chocando-se com a atmosfera da terra. No futuro, detectores de neutrino poderão ser sensíveis aos neutrinos produzidos quando raios cósmicos atingem a atmosfera da Terra. Foram construídos alguns observatórios de ondas gravitacionais como o Laser Interferometer Gravitational Observatory (LIGO) mas as ondas gravitacionais são extremamente difíceis de detectar. No final de 2015, pesquisadores do projeto LIGO ("Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory") observaram "distorções no espaço e no tempo" causadas por um par de buracos negros com trinta massas solares em processo de fusão. A astronomia planetária tem se beneficiado da observação direta pelos foguetes espaciais e amostras no retorno das missões. Essas missões incluem "fly-by missions" com sensores remotos; veículos de aterrissagem que podem realizar experimentos no material da superfície; missões que permitem ver remotamente material enterrado; e missões de amostra que permitem um exame laboratorial direto. Astrometria e mecânica celeste. Um dos campos mais antigos da astronomia e de todas as ciências, é a medição da posição dos objetos celestiais. Historicamente, o conhecimento preciso da posição do Sol, Lua, planetas e estrelas era essencial para a navegação celestial. A cuidadosa medição da posição dos planetas levou a um sólido entendimento das perturbações gravitacionais, e a capacidade de determinar as posições passadas e futuras dos planetas com uma grande precisão, um campo conhecido como mecânica celestial. Mais recentemente, o monitoramento de Objectos Próximos da Terra vai permitir a predição de encontros próximos, e possivelmente colisões, com a Terra. A medição do paralaxe estelar de estrelas próximas provêm uma linha de base fundamental para a medição de distâncias na astronomia que é usada para medir a escala do universo. Medições paralaxe de estrelas próximas provêm uma linha de base absoluta para as propriedades de estrelas mais distantes, porque suas propriedades podem ser comparadas. A medição da velocidade radial e o movimento próprio mostra a cinemática desses sistemas através da Via Láctea. Resultados astronômicos também são usados para medir a distribuição de matéria escura na galáxia. Durante a década de 1990, as técnicas de astrometria para medir as stellar wobble foram usados para detectar planetas extrasolares orbitando a estrelas próximas. Subcampos específicos. Astronomia solar. Localizada a uma distância de aproximadamente de oito minutos-luz da Terra, a estrela mais frequentemente estudada é o Sol, uma típica estrela anã da sequência principal da classe estrelar G2 V, com idade de aproximadamente 4,6 Gyr. O Sol não é considerado uma estrela variável, mas passa por mudanças periódicas em atividades conhecidas como ciclo solar, que se caracteriza por uma flutuação de cerca de 11 anos no número de mancha solares. Manchas solares são regiões de temperatura abaixo da média que estão associadas a uma intensa atividade magnética. O Sol tem aumentado constantemente de luminosidade no seu curso de vida, aumentando em 40% desde que se tornou uma estrela da sequência principal. O Sol também passa por mudanças periódicas de luminosidade que podem ter um impacto significativo na Terra. Por exemplo, se acredita que o mínimo de Maunder tenha causado a Pequena Idade do Gelo. A superfície externa visível do Sol é chamada fotosfera. Acima dessa camada há uma fina região conhecida como cromosfera. Essa é envolvida por uma região de transição de temperaturas cada vez mais elevadas, e então pela superquente corona. No centro do Sol está a região do núcleo, um volume com temperatura e pressão suficientes para uma fusão nuclear ocorrer. Acima do núcleo está a zona de radiação, onde o plasma se converte o fluxo de energia através da radiação. As camadas externas formam uma zona de convecção onde o gás material transporta a energia através do deslocamento físico do gás. Se acredita que essa zona de convecção cria a atividade magnética que gera as manchas solares. Um vento solar de partículas de plasma corre constantemente para fora do Sol até que atinge a heliosfera. Esse vento solar interage com a magnetosfera da Terra para criar os cinturões de Van Allen, assim como a aurora onde as linhas dos campos magnéticos da Terra descendem até a atmosfera da Terra. Astronomia teórica. Tópicos estudados pelos astrônomos teóricos são: dinâmica e evolução estelar; formação e evolução de galáxias; estrutura em grande escala da matéria no Universo; origem dos raios cósmicos; relatividade geral e cosmologia física, incluindo Cosmologia das cordas e física de astropartículas. Campos interdisciplinares. A astronomia e astrofísica desenvolveram links significantes de interdisciplinaridade com outros grandes campos científicos. Arqueoastronomia é o estudo das antigas e tradicionais astronomias em seus contextos culturais, utilizando evidências arqueológicas e antropológicas. Astrobiologia é o estudo do advento e evolução os sistemas biológicos no universo, com ênfase particular na possibilidade de vida fora do planeta Terra. O estudo da química encontrada no espaço, incluindo sua formação, interação e destruição, é chamada de Astroquímica. Essas substâncias são normalmente encontradas em nuvens moleculares, apesar de também terem aparecido em estrelas de baixa temperatura, anões marrons, e planetas. Cosmoquímica é o estudo de compostos químicos encontrados dentro do Sistema Solar, incluindo a origem dos elementos e as variações na proporção de isótopos. Esses dois campos representam a união de disciplinas de astronomia e química. Atuação profissional. No Brasil. Segundo o censo realizado pela Sociedade Astronômica Brasileira, em maio de 2011 havia 340 doutores em Astronomia atuando como pesquisadores no Brasil. Em 2006 foi instituída, no estado do Rio de Janeiro, a data de 2 de dezembro como o "Dia do Astrônomo". A data coincide com o aniversário do imperador Dom Pedro II, que era um conhecido incentivador da Astronomia.
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América Latina
América Latina A América Latina (; ) é uma região do continente americano que engloba os países onde são faladas, primordialmente, línguas românicas (derivadas do latim) — no caso, o espanhol, o português e o francês — visto que, historicamente, a região foi maioritariamente dominada pelos impérios coloniais europeus Espanhol e Português. A América Latina tem uma área de cerca de km², o equivalente a cerca de 3,9% da superfície da Terra (ou 14,1% de sua superfície emersa terrestre). Em 2008, a sua população foi estimada em mais de 569 milhões de pessoas. Os países do restante do continente americano tiveram uma colonização majoritariamente realizada por povos europeus de cultura anglo-saxônica ou neerlandesa (ver América Anglo-Saxônica). Vale ressaltar algumas exceções, como Québec, que não é um país independente, mas uma província de maioria francófona que pertence ao Canadá; o estado da Luisiana, que também foi colonizado por franceses, mas pertence aos Estados Unidos e os estados do sudoeste estadunidense, que tiveram colonização espanhola. A América Latina compreende a quase totalidade das Américas do Sul e Central: as exceções são os países sul-americanos da Guiana e do Suriname e a nação centro-americana de Belize e da Jamaica, que são países de línguas germânicas. Também engloba alguns países da América Central Insular (países compostos de ilhas e arquipélagos banhados pelo Mar do Caribe), como Cuba, República Dominicana e Haiti. Da América do Norte, apenas o México é considerado como parte da América Latina. A região engloba 20 países: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela. A expressão "América Latina" foi utilizada pela primeira vez em 1856 pelo filósofo chileno Francisco Bilbao e, no mesmo ano, pelo escritor colombiano José María Torres Caicedo; e aproveitada pelo imperador francês Napoleão III durante sua invasão francesa no México como forma de incluir a França — e excluir os anglo-saxões — entre os países com influência na América, citando também a Indochina como área de expansão da França na segunda metade do século XIX. Deve-se também observar que na mesma época foi criado o conceito de Europa Latina, que englobaria as regiões de predomínio de línguas românicas. Pesquisas sobre a origem da expressão conduzem, ainda, a Michel Chevalier, que mencionou o termo "América Latina" em 1836, durante uma missão diplomática feita aos Estados Unidos e ao México. Nos Estados Unidos, o termo não foi usado até o final do século XIX tornando-se comum para designar a região ao sul daquele país já no início do século XX. Ao final da Segunda Guerra Mundial, a criação da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe consolidou o uso da expressão como sinônimo dos países menos desenvolvidos dos continentes americanos, e tem, em consequência, um significado mais próximo da economia e dos assuntos sociais. Convém observar que a Organização das Nações Unidas reconhece a existência de dois continentes: América do Sul e América do Norte, sendo que esta última se subdivide em Caribe, América Central e América do Norte propriamente dita, englobando México, Estados Unidos e Canadá, além das ilhas de São Pedro e Miquelão, Bermudas e a Groenlândia. As antigas colônias neerlandesas (e, atualmente, países constituintes do Reino dos Países Baixos) Curaçao, Aruba e São Martinho não são habitualmente consideradas partes da América Latina, embora sua língua mais falada seja o papiamento, língua de influência ibérica (embora não considerada latina). Etimologia. O termo foi utilizado pela primeira vez em 1856, numa conferência do filósofo chileno Francisco Bilbao e, no mesmo ano, pelo escritor colombiano José María Torres Caicedo em seu poema "Las dos Américas" ("As duas Américas", em português). O termo "América Latina" foi usado pelo Império Francês de Napoleão III da França durante sua invasão francesa no México (1863-1867) como forma de incluir a França entre os países com influência na América e excluir os anglo-saxões. Desde sua aparição, o termo evoluiu para designar e compreender um conjunto de características culturais, étnicas, políticas, sociais e econômicas. História. Primeiros povos. É provável que os primeiros povos vieram da Ásia para a América, cerca de 20 mil anos anteriores à chegada de Cristóvão Colombo ao hemisfério ocidental. Esses habitantes primitivos possivelmente vieram da Ásia à América, passando por uma ponte feita de terra, na era glacial, ou passando de barco pelo Estreito de Bering, ou, então, atravessando ilha por ilha, nas Aleutas. Dirigindo-se para o sul, se espalharam progressivamente pela América. Esses habitantes de origem asiática, denominados, hoje, de índios americanos, ou ameríndios, vagueavam pela terra, perseguindo os animais para matar e tirando os peixes da água. Depois de uma grande quantidade de gerações na América, novos modos de vida foram desenvolvidos por certas tribos. Ao invés de vaguear, ergueram comunidades agrícolas. Foram os primeiros habitantes que plantaram cacau, milho, feijão, favas, batatas, abóbora e tabaco. Nas regiões em que ótimas colheitas foram conseguidas pelos agricultores que viviam tranquilamente, o crescimento populacional foi acelerado. A cultura maia foi a mais antiga civilização de alto desenvolvimento no ocidente. Teve início na América Central mais de cem anos antes da época em Jesus Cristo nasceu. Por volta de 600 a.C., os maias criaram um calendário e um alfabeto de ideogramas. Haviam criado, também, estilos arquitetônicos, esculturais, e trabalhos metálicos. Tiveram uma boa estrutura de governo e conheciam muito bem astronomia e agricultura. Durante a invasão espanhola da América Latina, no século XVI, aí prosperavam três grandes civilizações ameríndias: a "maia", na América Central (a qual era influenciada pela tolteca, do México, a partir do século X d.C.); a "asteca", no México, e a "inca" no Equador, no Peru e na Bolívia. Essas civilizações exerceram muita influência na prosperidade latino-americana que veio depois dessa contribuição dada pelos primeiros povos da região. O ouro e prata existiam em suas minas, e isso fez com que os dominadores espanhóis conquistassem os povos indígenas na maior rapidez possível. Exploração e colonização. A Espanha reclamou para o seu império colonial da maioria do território latino-americana, logo após a chegada de Cristóvão Colombo a essa área, em 1492. Terras no hemisfério ocidental eram reivindicadas por Portugal. Em uma grande quantidade de vezes, ambos os países desejavam as mesmas terras. Para estes conflitos que fossem resolvidos, uma linha demarcadora foi traçada pelo papa Alexandre VI (1431-1503), em 1493. Essa linha imaginária, a qual percorria de norte a sul, ultrapassava mais de 400 km a oeste das ilhas dos Açores e de Cabo Verde. Os espanhóis e os portugueses exploravam uma diminuta porção do hemisfério ocidental. Estavam de acordo que a Coroa de Castela poderia ter o total das terras das terras a oeste desta linha e o Reino de Portugal o total das terras a leste. Esse acordo fazia referência somente a terras que não fossem governadas por um adepto do cristianismo. Porém, os portugueses não gostaram da ideia da linha, por acreditar que a bula "Inter cætera" concedia à Coroa de Castela uma área territorialmente muito extensa. Em 1494, o Tratado de Tordesilhas, pela qual a linha era deslocada a mais de 1 500 km a oeste, foi assinado pelo Reino de Portugal e pela Coroa de Castela. Ao Reino de Portugal competia a parte leste do continente, pela qual, hoje, boa porção do território brasileiro é representada. As terras das Espanha localizavam-se a oeste, e estendiam-se entre a Vice-Reino da Nova Espanha, atuais regiões sudoeste, norte, centro e sul dos EUA, e o ponto mais ao sul da América do Sul, na Terra do Fogo. De 1492 até 1502, Cristóvão Colombo (1451-1506) viajou quatro vezes à América e criou uma grande variedade de colônias menores nas Antilhas. Pedro Álvares Cabral (1467-1520), navegador português, atingiu o litoral brasileiro em 1500. Cabral achou ter descoberto uma ilha e a reclamou para sua pátria. O navegador italiano Américo Vespúcio, que denominou a América, viajou em uma grande variedade de vezes entre 1497 e 1503, perante as bandeiras da Coroa de Castela e do Reino de Portugal. Os litorais brasileiro, uruguaio e argentino foram explorados por Vespúcio, além da exploração de quase o total do litoral argentino por Fernão de Magalhães, em 1520. Nos primeiros anos do século XVI, os "conquistadores" dentre os quais eram encontrados Hernán Cortés (1485-1547) e Francisco Pizarro (1478?-1541), auxiliaram na consolidação do domínio da Coroa de Castela sobre a América Latina. Cortés chegou no litoral do México em 1519. Dois anos depois, tinha uma força de guerra com mais de mil espanhóis, uma grande quantidade de aliados ameríndios, certa artilharia leve e poucos cavalos. Com essa força, em 1521, havia dominado Tenochtitlán (atual Cidade do México), antiga sede de governo do Império Asteca. Nos últimos dias daquele ano, a maioria do território mexicano já foi conquistada por Cortés. Em 1523, um de seus oficiais, Pedro de Alvarado, saiu do México em direção ao sul, até a América Central. Naquele mesmo ano, foi encontrado com tropas que dirigiam-se para o norte, as quais vieram da colônia pertencente à Coroa de Castela que Vasco Núñez de Balboa (1475?-1519) fundou no Panamá e Pedro de Alvarado assegurou para a Coroa de Castela a América Central inteira. Em 1531, Pizarro saiu do Panamá, velejando em direção ao sul, com mais de 180 homens e 27 cavalos. Chegou no Peru e, em torno de 1533, depois que venceu facilmente os indígenas, já conquistou a maioria do território do Império Inca. Pedro de Valdivia (1500-1553), um dos oficiais de Pizarro, havia conquistado o norte do Chile e criou Santiago em 1541. As regiões dominadas do litoral oeste da América do Sul, do Panamá até o centro do Chile foram dadas por essa conquista à Coroa de Castela. No Chile, o tempo de sobrevivência contínua dos araucanos foi de cerca de 300 anos. Colonização. Entre 1500 e 1800, os colonizadores que vieram da Coroa de Castela e do Reino de Portugal acorreram em grande número para as novas terras. Os proprietários de terras plantavam algodão, frutas e cana-de-açúcar na maioria do território que ocuparam, principalmente na Região Nordeste do Brasil, nas ilhas das Antilhas e na América Central. Grupos de homens agitados que procuravam ouro e prata passavam pela grande área do México até a Bolívia dos dias de hoje. Por onde percorriam, os europeus obrigavam que boa parte dos nativos trabalhassem para eles, nos campos, nas florestas e nas minas. Trouxeram os primeiros escravos que vieram da África para a América nos primeiros anos do século XVI. Principalmente, o litoral leste da América do Sul fornecia uma pequena quantidade de atrativos para os colonizadores. Uma pequena quantidade de indígenas habitavam a região e nada restou ouro e prata. Por isso, o litoral leste continuou quase sem exploração até o início do século XVII, na época em que a fertilidade do solo para a lavoura e a pecuária foi verificada pelos europeus. Já se colonizou boa parte do território da América Latina numa época anterior à chegada definitiva dos colonizadores ingleses na América do Norte, mais precisamente onde é hoje o estado mais antigo dos Estados Unidos, a Virgínia em 1607. A maior parte dos espanhóis e portugueses vindos para a América Latina queria se enriquecer com rapidez e retornar aos países de onde vieram. Porém, em suas expedições existiam, também, artesãos e camponeses, os quais queriam iniciar um novo tipo de vida. Movimentos de independência. As colônias da América Latina ficaram sendo dominadas pela Europa por aproximadamente 300 anos. Entre 1791 e 1824, a maior parte das colônias que batalharam em guerras, foram libertadas do domínio europeu por esses conflitos. Todo o país possuía seus próprios heróis revolucionários, porém, ambos os homens mereceram destaque como líderes da América Latina independente. Um dos dois é general venezuelano Simón Bolívar (1783-1830) que venceu libertando a Venezuela, a Colômbia, o Equador, o Peru e a Bolívia. O outro é José de San Martín (1778-1850), general argentino e líder de um exército, que saiu da Argentina, e auxiliou para que o Chile se tornasse independente da Espanha. Contribuiu, também, para que o Peru fosse libertado. A maior parte das colônias possuía quatro motivos de base para batalhar pela independência: O Haiti se revoltou contra a França, em 1791. Em 1804, o Haiti foi proclamado independente e elevado à categoria de república negra mais antiga das Américas e do mundo. Um antigo escravo negro, Toussaint l'Ouverture (1743-1803) foi o mais importante líder haitiano que lutou pela liberdade de seu povo. A ocorrência de incidentes na Europa foi a causa das batalhas independentistas nas colônias localizadas na América Latina. Os reinos da Espanha e de Portugal passavam a entrar em decadência como potências mundiais. Em 1808, a derrubada franco-napoleônica de Fernando VII da Espanha, substituído por seu irmão, José Bonaparte levou os hispano-americanos a reagirem violentamente. Em 1810, exemplificando, a revolta dos mexicanos foi contrária aos governantes espanhóis de José Bonaparte. Os dois líderes da revolta mexicana foram ambos os padres Miguel Hidalgo y Costilla (1753-1811) e José Maria Morelos y Pavón (1765-1815). Também em 1810, Chile foi declarado independente do Reino da Espanha pelos grandes fazendeiros do país andino. Mas perderam das forças espanholas. O Chile foi declarado finalmente independente em 1818, com as forças cujos líderes foram o herói chileno foi Bernardo O'Higgins (1778-1842) e por San Martin. A tentativa de libertação do país de nascimento de Francisco de Miranda (1750-1816), revoltoso venezuelano, foi infrutífera em 1806 e pela segunda vez em 1811. Simón Bolívar, que seguia Miranda, havia empreendido um novo tipo de campanha em 1813. A luta de seus exércitos, que finalmente venceram no de Ayacucho em 1824, foi contrária às forças espanholas por mais de 10 anos. Esta glória libertou o total das colônias do Reino da Espanha na América do Sul. O Brasil proclamou sua independência de Portugal sem declarar guerra. Em 1808, João VI de Portugal (1767-1826) encontrou refúgio durante a invasão napoleônica em seu país. Voltou a Lisboa 14 anos depois que Napoleão Bonaparte foi derrotado. Seu filho Pedro (1798-1834) foi deixado pelo então rei de Portugal para que governasse o Brasil como regente. Porém, o povo brasileiro, do mesmo modo que os povos que habitavam as colônias do Reino da Espanha, não desejava que os europeus os governassem. Desejava que o Brasil fosse libertado de Portugal. No dia 7 de setembro de 1822, proclamou a independência do Império do Brasil e ascendeu ao trono como Pedro I do Brasil. Em 1821, a autoridade do Reino da Espanha foi repudiada pelos cidadãos nascidos na América Central. Os rebeldes não resistiram muito, já que as forças do Reino da Espanha eram reduzidas e o partido dos revolucionários foi tomado pelo governador espanhol. Conflitos regionais. As relações internacionais entre os países fronteiriços latino-americanos foram pontilhadas por uma grande quantidade de lutas menos importantes, além de uma grande variedade de guerras. O maior desses conflitos foi a Guerra do Paraguai, pela qual os três países da Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai) e o vilão Paraguai estiveram envolvidos. Seu tempo de duração foi entre 1864 e 1870. O Paraguai alargou suas fronteiras, e isso provocou principalmente as lutas, ainda nos tempos atuais se discutem certas fronteiras do país e esses limites geopolíticos são controversos. Nos primeiros anos do século XIX, os problemas que existiam dentre ambas as potências de maior dimensão geopolítica da América do Sul — a Argentina e o Brasil — foram centralizados na área de ocupação do atual Uruguai. Em 1825, desenvolveu-se a guerra entre Brasil e Argentina. Três anos depois o Império do Brasil e as Províncias Unidas do Rio da Prata reconheceram a área em disputa como país independente, o Uruguai. Em 1932, a Bolívia e o Paraguai guerrearam porque um dos dois países queria se apossar do Gran Chaco. As negociações de paz iniciaram-se em 1935 e, em 1938, um acordo final dava 237 800 km² de extensão territorial em litígio para o Paraguai. Ambos os lados não se satisfizeram. O Chile batalhou contra a Bolívia e o Peru entre 1879 e 1883, porque o Chile desejava discutir sobre nitratos. A guerra foi vencida pelo Chile, que tomou posse da região a qual era enriquecida de nitrato e que obrigou a Bolívia a deixar o seu litoral antes banhado pelo Pacífico. A partir de então, a Bolívia não é mais banhada por litoral marítimo. O Chile e o Peru debateram por questões limítrofes até o acerto finalizado de sua situação geográfica, em 1929. Equador e Peru batalharam porque um dos dois países queria se apossar de uma área agreste, não disponível nos mapas, que se estendia do Equador até a região oeste do Brasil. De 1940 até 1941, ambos os países batalharam porque essa região era litigiada. O Peru venceu o Equador, que havia anexado quase o território inteiro aos peruanos. Era contemporânea e integração. A economia da maior parte dos países da América Latina é dependente, em sua maioria, de produtos agrícolas e minerais exportados para a Europa e os Estados Unidos. Ao contrário, os produtos de importação latino-americanos vindos da Europa e dos EUA são em sua maioria os artigos manufaturados necessários para fins educativos, culturais, midiáticos, medicinais, tecnológicos, etc. Há uma pequena quantidade de intercâmbio comercial entre os países da América Latina, especialmente devido à produção de matérias-primas pela maior parte deles. Mas, depois da Segunda Guerra Mundial, o desenvolvimento da indústria manufatureira foi rápido em uma grande variedade de países, principalmente na Argentina, no Brasil, no Chile, no México e na Venezuela. A industrialização cresceu muito, e isso motivou que diversas conferências fossem realizadas, nos anos 1950, as quais objetivavam ao incremento do intercâmbio comercial dentre os países latino-americanos. Enfim, em fevereiro de 1960, numa reunião que se realizou em Montevidéu, Uruguai, formou-se a Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC). O acordo da ALALC foi assinado por sete países, a saber: Argentina, Brasil, Chile, México, Paraguai, Peru e Uruguai. Em 1961, Colômbia e Equador entraram para a ALALC. A Venezuela aderiu à ALALC em 1966, e a Bolívia em 1967. Os países signatários permitiram que fosse eliminada a maioria das restrições comerciais dentre eles, incluindo restrições alfandegárias e tarifárias, até 1980. A Associação Latino-Americana de Integração (ALADI) substituiu o sistema em 1980. Em dezembro de 1960, quatro países da América Central constituíram uma organização parecida. Um tratado de Integração Econômica Centro-Americana foi assinado por El Salvador, Guatemala, Honduras e Nicarágua. Em 1963, a Costa Rica aderiu a esta organização denominada, em geral, de Mercado Comum Centro-Americano. Embora exista uma grande quantidade de problemas, o comércio entre os países da América Latina havia aumentado, sendo influenciado por dois ou três acordos. Exemplificando, o algodão mexicano ou brasileiro está sendo importado pelo Chile, em contrapartida ao algodão que antes seria comprado nos Estados Unidos. O México exporta aço para uma grande variedade de países da América do Sul, e produtos industrializados no Brasil, como máquinas de escrever e computadores, são exportados para o Chile e o Paraguai. Em 1969, um acordo econômico denominado Pacto Andino foi assinado por Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Peru. Os países haviam convencionado que acabassem, até 1980, com as barreiras comerciais dentre eles. No século XXI houve a guinada à esquerda, que foi um aumento no número de governos de esquerda pelo continente. Pouco depois, em meados dos anos 2010, houve a onda conservadora, caracterizada pela ascensão, desta vez, de governos de centro-direita e direita. Geografia. A América Latina está toda localizada no hemisfério ocidental, sendo cortada pelo Trópico de Câncer, o qual atravessa o centro do México, pelo Equador, o qual corta o Brasil, Colômbia, Equador e pelo qual é tocado o norte do Peru; pelo Trópico de Capricórnio, o qual corta o Brasil, o Paraguai, a Argentina e o Chile. Está distribuída irregularmente pelos hemisférios norte e sul, devido à extensão da maioria de suas terras ao sul da Linha do Equador. Quase todas as terras da América Latina, estão localizadas na zona climática intertropical; uma porção menor está situada na zona temperada do norte e uma área muito grande localiza-se na zona temperada do sul. Tem como limites: ao norte, com os Estados Unidos; ao sul; com a junção das águas salgadas dos oceanos Atlântico e Pacífico; a leste, o oceano Atlântico; e a oeste, o oceano Pacífico. Relevo. A América Latina possui a mesma ordem de formas de relevo, no sentido norte-sul, em todas as latitudes. Dessa forma, há cinco unidades geomorfológicas mais importantes: Clima. Todos os climas regionais são dependentes de uma grande quantidade de fatores: latitude, altitude e relevo disposto, massas de ar, continentalidade, maritimidade, correntes marítimas, entre outros. Uma pequena ou grande latitude determina caso uma região esteja mais perto ou mais longe do Equador e, assim sendo, caso faça maior ou menor calor. Além disso, por causa do relevo, esta região, possivelmente, possui faixas térmicas diferenciadas, de acordo com a altitude. Com embasamento nisto, é simples o entendimento de que em quase a América Latina inteira são predominantes temperaturas elevadas e quais essas se reduzem quando se dirigem ao polo Sul. Por esse motivo, a porção sul da América Latina, denominada de Cone Sul, é uma área de verões brandos e invernos gelados. Por ser longamente disposto no sentido norte-sul, fazendo com que o território da América esteja situado em latitudes diferenciadas, ele é climaticamente muito diversificado. Na América Latina, merecem destaque os climas tropicais, úmidos ou secos, surgindo, em certos pontos, o tropical de altitude. Cercado por essa ampla extensão tropical, há um pedaço de clima equatorial, também enormemente grande, caracterizado por pequena amplitude térmica, temperaturas altas e chuvas permanentes. Desde o Trópico de Capricórnio, na América do Sul, os climas predominantes são modificados aos poucos depois que a latitude aumenta, começando a predominar os tipos climáticos temperados e frios. A temperatura influi mais em cima do relevo na porção ocidental, em que as cordilheiras possuem faixas de terras quentes, amenas e geladas. Estas faixas desaparecem à proporção em que reduz o distanciamento relacionado ao polo sul, em que mesmo ao nível do mar já localizam-se regiões continuamente frias. Na América Latina, os ventos colaboram para que seja alterado o regime chuvoso e as próprias temperaturas. Em certos países sul-americanos, especialmente nos dos centro-sul, a diminuição térmica nublada tem muita nitidez durante a chegada da frente fria. As altas temperaturas da região equatorial trazem, no inverno, as massas de ar frio, as quais, em geral, causam chuvas e posterior diminuição da temperatura quando ela passa. No verão, no hemisfério sul, as temperaturas de maior elevação acontecem no centro da América do Sul, o que atrai ventos do oceano Atlântico. Como qualquer região em que predomina o clima tropical, a América Latina possui vastos contrastes: certas áreas de grande umidade e demais de desertos ou semidesertos. As primeiras são frequentes na porção equatorial da América do Sul ou em regiões de litoral. Já as regiões de deserto aparecem principalmente no momento em que os ventos de umidade são impedidos de passar para o sertão pelo relevo. Há certos desertos (quantidade menor de 250 mm chuvas ao ano) na América Latina: Mexicano; de Atacama, do Chile ao Peru; e da Patagônia, no sul da Argentina. Essa porção das Américas possui regiões de semideserto nos planaltos mexicanos e no polígono das secas, na Região Nordeste do Brasil. Uma quantidade chuvosa muito pequena é recebida por estas regiões de estiagem devido ao seu isolamento litorâneo pelo relevo disposto, dificultando que contatem com os ventos de umidade. O deserto de Atacama constituiu-se porque a corrente marítima de Humboldt influencia, e isso, quando esfria as águas do Pacífico, causa a condensação de nuvens cheias de vapor de água em cima do nível do oceano, fazendo elas chegarem secadas no continente. Hidrografia. Como seu relevo é disposto, a maior parte dos rios americanos, e especialmente latino-americanos, drenam no sentido oeste-leste, porque o paredão da cordilheira dos Andes faz eles se dirigirem ao Atlântico. Sendo, geralmente, uma região de grande umidade, a América Latina tem, na maioria de sua extensão, uma grande rede hidrográfica. Sobressaem: na América do Norte, o rio Grande, na fronteira Estados Unidos-México; na América Central, em Honduras, rio Patuca; na América do Sul, em sua parte norte, destacam-se os rios Madalena, na Colômbia, e Orenoco, na Venezuela, que desembocam no mar das Antilhas e pelos quais é banhada uma importante região agropecuária da fachada norte do continente, bem como demais rios principais os quais são projetados em suas porções central e sul, como o grande Amazonas e os rios Paraná, Paraguai e Uruguai, os quais compõem a bacia Platina, desembocando totalmente no oceano Atlântico. Ao contrário da América do Norte, a América Latina não possui imensos lagos, no entanto, essa região tem numerosas lagoas em seu litoral, especialmente na vertente do Atlântico, como a lagoa dos Patos, no Brasil, lagoas de inundação nas planícies Amazônica e do Orenoco; e lagos de altitude, como o Titicaca, do Peru até a Bolívia. Vegetação. A maioria da vegetação a qual cobria a América Latina até o século XVI desapareceu. Porém os países mais antigos desmatavam áreas consideradas "mato" na Idade Média para ocupar e ampliar as áreas férteis e já desmatavam as terras desocupadas desde tempos antigos, já que a maioria do território brasileiro ainda é coberto por matas nativas e a grande parte do território dos Estados Unidos é coberto por florestas nativas e o percentual é o mesmo desde o século XIX, o desmatamento trouxe mais áreas agrícolas, mas não trouxe enriquecimento econômico, que só aconteceu após a Revolução Industrial, porém desde 1970, muito tempo após a industrialização do continente europeu, passaram a recuperar as florestas desmatadas na época anterior as Primeira e Segunda Guerras Mundiais, porém a exceção ao desmatamento do território no Velho Mundo e na Ásia é o Japão, onde 68% da vegetação ainda está preservada e possui uma densidade populacional maior que da América Latina. Só se preservou a cobertura vegetal nos lugares de pouco interesse econômico ou em regiões de relevo íngreme, no entanto, de qualquer forma, é de grande facilidade a reconstituição da vegetação original, porque ela resultou do clima e do tipo de solo em que foi desenvolvida. Dessa forma, podem ser identificadas na região: Demografia. A América Latina possui muitas e diversas culturas, por causa da mistura de línguas, etnias e costumes. Apesar do predomínio do espanhol como língua oficial dos países da América Latina, são falados também português, francês e, em certas regiões, até mesmo inglês e neerlandês. Existem também muitas línguas nativas, merecendo destaque o quíchua, legado dos incas e idioma que se fala no Peru, Equador, Bolívia e Argentina. A etnia dos habitantes da América Latina é muito variável de país a país. Apesar da intensidade da mestiçagem, existem nações em que a maior parte dos habitantes é branca (Argentina e Uruguai), demais em que quase o total dos habitantes é de origem negra (Haiti, República Dominicana,) e certas onde está fortemente presente o sangue índio (Peru, Bolívia, México, Equador e Paraguai). Existem países mestiços de verdade (Colômbia e Venezuela) e demais como o Brasil, no qual há regiões de população com predomínio de brancos e demais as quais têm a maior parte de negros, mestiços ou índios. Religiões. A maioria da população professa o catolicismo romano, mas em alguma parte desses países latino-americanos é crescente o número de protestantes, popularmente chamados no Brasil de evangélicos. Há também minorias de judeus, muçulmanos, hinduístas, budistas, espíritas — já que o Brasil é o país com o maior número de adeptos dessa religião —, e praticantes de cultos afro-brasileiros. Uma pesquisa realizada em toda a América Latina, divulgada em 2014 relatou que o número de protestantes na região já chegava a 19% da população latino-americana, enquanto os católicos estariam em 69%. Idiomas. O Espanhol é o idioma predominante na maioria dos países da América Latina. O Português é a língua oficial somente do Brasil, porém é falada por mais de 34% da população da América Latina; e o Francês é falado no Haiti, em algumas ilhas do Caribe e na Guiana Francesa. Ainda há o neerlandês, falado em ilhas caribenhas e no Suriname. Em diversas nações, principalmente as caribenhas, existem os idiomas crioulos, que derivam de línguas europeias e línguas nativas do país, antes da colonização. Em outras, existe uma grande quantidade de falantes das línguas indígenas, como o México, o Peru, a Guatemala e o Paraguai. Nestes casos, é comum os governos nacionais ou regionais reconhecerem estes idiomas não europeus como idiomas oficiais, ao lado do idioma europeu predominante. Por exemplo, o Quíchua é reconhecido no Peru como idioma oficial, ao lado do Espanhol. O Guarani também é idioma oficial no Paraguai juntamente com o Espanhol. Problemas socioeconômicos. Politicamente, a América Latina não é uniformemente apresentada em consideração aos seus aspectos humanos. Há muitos anos, a região era politicamente instável. Mas, nos anos de 1980, diversos países passaram por um período de ditaduras militares e, atualmente, há eleições livres em quase a América Latina inteira, apesar da existência de focos tensos em certos países onde grupos de tendências políticas de oposição rivalizam pelo poder. Os países da América Latina, em sua totalidade, são subdesenvolvidos, apesar de certas nações serem industrialmente e tecnologicamente avançadas, sendo que o capital transnacional controla a maior parte de tudo isso, como é o caso do Brasil, México e Argentina. Mas a economia da maior parte dos países da América Latina é a agricultura que se baseia nas técnicas primitivas e numa distribuição desigual de terras, pela qual os grandes fazendeiros são privilegiados. Estigmatizada por uma grande quantidade de diferenças entre seus países formadores (grupos étnicos, dialetos, corrupção política, infraestrutura, criminalidade, etc.), entendemos que a importância da expressão "América Latina" está mais para que seja distinta, no continente americano, a parte subdesenvolvida da porção rica e industrializada do que para que fosse salientada uma noção unitária. Política. Consolidação política. Durante o colonialismo, eram obedecidos pelos cidadãos da América Latina as leis que os monarcas distantes aprovaram e quase não podiam discutir seus próprios assuntos. Como revolta, foram criados pelos latino-americanos seus próprios países, eram politicamente menos experientes. Por líderes que tiveram sensatez, como Simón Bolívar, não era considerado com prudência o estabelecimento de repúblicas na América Latina. O argumento dos líderes sensatos era de que o povo não era experiente em autogoverno. Porém, entre o México e a Argentina, a impetuosidade dos patriotas tinha visto o rumo da Revolução Francesa e da Revolução Americana. O desejo dos patriotas impetuosos era um governo republicano, com a esperança de acompanhamento do mesmo rumo. Para melhor entendimento dos problemas políticos da América Latina o importante é um pouco de conhecimento da história de certos países. Até 1829, a Argentina era sucedida por governos fracos. Naquele ano, por Juan Manuel de Rosas (1793-1877), um rico proprietário de terras que liderava o seu próprio exército, foi assumido o poder e o político foi tornado ditador. Em 1852, houve a revolta da população contra Rosas e seu poderio foi derrubado. A partir de então, os milionários controlavam muitas partes da vida do país. Pela desonestidade das eleições e pelos militares revoltosos eram, acompanhadamente, colocados governantes autoritários na presidência. Na Argentina foi eleito o presidente Raúl Alfonsín em eleições diretas, voltando o país à democracia. No Brasil, após a derrubada do Governo de Portugal em 1822, foi instituída pelo povo uma monarquia constitucional sendo chefe de Estado o imperador Pedro I. Entretanto, Dom Pedro perdeu a confiança do povo brasileiro porque seu governo foi um desastre. Em 1831, houve a abdicação do trono por Dom Pedro I favorecendo seu descendente, Pedro II (1825-1891). Por aproximadamente uma cinquentena de anos, durante o reinado de Pedro II, foi usufruído pelos brasileiros, em muitas partes, um governo representativo. O povo brasileiro foi adquirindo experiência de governo, como auxílio político ao país. Em 1888, ainda no final do Segundo Reinado, foi abolida a escravidão no Brasil. A união dos fazendeiros com as forças oposicionistas foi responsável pela obrigação da abdicação do trono de Dom Pedro em 1889. Então, foi proclamada a república no Brasil. Porém, à exceção pelo intervalo de tempo que vai de 1898 até 1910, o Brasil foi um país no qual quem quase sempre governou foram presidentes autoritários. A constituição de 1946 restabeleceu a totalidade da democracia. Em 1964, foi instituído pela Ditadura Militar de 1964 no país um governo de exceção, que terminou em 1985, com a eleição de Tancredo Neves, morto antes da posse, sendo substituído pelo seu vice, José Sarney. No Chile, foi mantido pelos donos de terras o fato de controlarem o governo por cerca de 100 anos após o país ser proclamado independente. Com a constituição de 1833 foram estabelecidas eleições livres. O governo, porém, aprovou uma lei cujas exigências eram as propriedades dos eleitores e a sua alfabetização. O resultado da lei era a falta de direito do povo ao voto até a abolição do fato de o governo exigir propriedade, em 1874. Em 1920, houve a união dos partidos políticos onde eram incluídos como membros agricultores e operários. Os agricultores e operários venceram a maioria dos votos válidos das eleições naquele ano e mantiveram sua força política. Durante quase todo o século XX o Chile elegeu governos civis. Em 1970, o Chile foi o primeiro país do hemisfério ocidental que elegeu, por livre e espontânea vontade, um presidente que tinha o marxismo como ideologia política. Em 1973, pela primeira vez em aproximadamente 45 anos, houve a subida dos líderes militares ao poder no Chile. Durante os primeiros tempos da história da república no México, os líderes militares lutaram violentamente pelo poder. Foi a chamada Revolução Mexicana, cujo tempo de duração foi de dez anos, de 1910 a 1920, que levou a reformar muitas coisas do país, inclusive a de um programa do governo que redistribuía terras. A partir de 1934, a estabilidade dos governos já promove o fato de o país progredir, realizando melhorias nas condições da sociedade e da economia. Ditaduras têm tido muita frequência em repúblicas centro-americanas, exceto Costa Rica, que, há muitos anos, seu governo tem estabilidade e constitucionalidade. Nas Antilhas, a forma de governo de Cuba é uma república comunista, e, no Haiti, a política tem violência e lutas assinaladas com pontos. Na República Dominicana, o governo ditatorial do general Rafael Trujillo Molina foi entre 1930 e 1961, ano em que ocorreu seu assassinato. Nos locais onde não há voto popular em seus representantes por meio de eleições livres, o governo muda muito, geralmente, pela força. Na maioria dos países da América Latina, é determinado pelas forças armadas, de maneira frequente, aquele que será o governante de seus países. Isto já ocorreu na maioria das nações, incluindo a Bolívia, o Equador, Honduras, o Paraguai, o Peru, a Argentina e a Venezuela. Relações internacionais. Simón Bolivar compreendeu a importância de se reunirem representantes das Américas. Em 1826, convocou uma conferência que visava reunir todas as novas repúblicas latino-americanas sob um só governo. Mas as nações não concordaram. Por mais de 60 anos, certas desconfianças nacionalistas impediram que as repúblicas tomassem qualquer medida para uma cooperação internacional. Finalmente, em 1890, os Estados Unidos e as repúblicas latino-americanas formaram a União Internacional das Repúblicas Americanas. Esta organização criou o Escritório Comercial das Repúblicas Americanas, que, em 1910, teve seu nome mudado para União Pan-Americana. O propósito da União Pan-Americana era estreitar as relações econômicas, culturais e políticas entre os países participantes. No início do século XX, foram realizadas várias reuniões. Em 1933, em Montevidéu, no Uruguai, os países-membros comprometeram-se a não interferir nos assuntos internos uns dos outros. Em 1936, em Buenos Aires, na Argentina, comprometeram-se a manter a paz no hemisfério ocidental. Durante a Segunda Guerra Mundial, as repúblicas latino-americanas fixaram uma posição comum contra a Alemanha, a Itália e o Japão. Em 1947, o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca, ou Tratado do Rio de Janeiro, declarava que os Estados Unidos, e 19 países latino-americanos resolveriam seus problemas pacificamente e que a agressão armada contra um deles seria considerada como agressão contra todos eles. Apenas a Nicarágua foi excluída, porque a maioria das outras nações não reconhecia o seu governo. A Organização dos Estados Americanos (OEA) foi criada na nona Conferencia Pan-Americana, realizada em Bogotá, na Colômbia, em 1948. Inicialmente era constituída por 20 repúblicas latino-americanas e os Estados Unidos. Em 1962, Cuba, por ter um governo comunista, foi expulsa. Neste mesmo ano, os países da OEA, apoiaram o bloqueio dos Estados Unidos para impedir o desembarque de mísseis russos em Cuba. Em 1964, a OEA serviu de mediador na polêmica entre Estados Unidos e Panamá sobre as condições na Zona do Canal do Panamá. A OEA procura encontrar soluções pacíficas para todos os problemas surgidos entre seus membros, além de defender os princípios de justiça social, cooperação econômica e igualdade entre os homens, independente de raça, nacionalidade ou credo. Em 1970, a União Pan-Americana passou a chamar-se Secretariado Geral da OEA. Estados Unidos. Os Estados Unidos tomaram sua primeira posição importante nos assuntos relacionados com o hemisfério ocidental quando formularam a Doutrina Monroe, em 1823. A Doutrina Monroe colocava as nações latino-americanas sob a proteção dos Estados Unidos. Durante muitos anos, a doutrina causou ressentimentos na América Latina. Este ressentimento diminuiu um pouco na Conferência Pan-Americana de 1933. Todas as nações assinaram um pacto comprometendo-se a respeitar a Política da Boa Vizinhança apresentada por Franklin Delano Roosevelt. Era um tratado de não interferência que também previa um programa de intercâmbio de professores, estudantes, líderes culturais, conferencistas e tecnocratas. Os Estados Unidos enviaram vários profissionais das áreas tecnológicas à América Latina para ajudá-la a desenvolver seus sistemas de agricultura, indústria e educação, e a melhorar os serviços de saúde. Em 3 de março de 1961, o presidente John F. Kennedy, dos Estados Unidos, lançou a ideia de um programa de cooperação multilateral destinado a acelerar o desenvolvimento econômico, cultural e social da América Latina. No dia 17 de agosto do mesmo ano, as nações latino-americanas aprovaram a iniciativa do presidente Kennedy e deram-lhe o nome de Aliança para o Progresso. A Aliança foi aprovada em reunião realizada em Punta del Este, no Uruguai. O programa inicial da Aliança para o Progresso, previsto para dez anos (1961-1971) contava com um empréstimo de 20 bilhões de dólares dos Estados Unidos aos países da América Latina. Este empréstimo deveria ser utilizado principalmente em cinco áreas: incentivo aos programas de reforma agrária; construção de habitações populares mas de boa qualidade; redução da mortalidade infantil; distribuição equitativa da renda nacional; erradicação do analfabetismo. Por volta de 1970, muitos países latino-americanos já haviam iniciado seus programas de reformas econômicas e sociais, mas pouco havia sido feito para melhorar os níveis de vida. Outros países. As relações do Reino Unido com a América Latina foram quase que exclusivamente comerciais. Houve disputas de menor importância com alguns países latino-americanos, mas nunca a Grã-Bretanha tentou estender suas possessões além de Belize, da Guiana Inglesa (hoje Guiana independente), das ilhas Malvinas, e de algumas ilhas das Antilhas. Os ingleses investiram somas vultosas na América Latina em fábricas de enlatados, utilidades públicas e estradas de ferro, no século XIX e início do século XX. As relações com a França foram, principalmente, de caráter cultural. Alguns latino-americanos, em especial os argentinos, buscavam em Paris inspiração para sua arte. Mas a França pouco participou da vida política das repúblicas, exceto por um breve espaço de tempo, na década de 1860. Naquela ocasião, Napoleão III enviou um exército ao México e fez de Maximiliano imperador do México. Entre 1864 e 1867, os mexicanos derrotaram os franceses e executaram Maximiliano. Na Primeira Guerra Mundial, Brasil, Costa Rica, Cuba, Guatemala, Haiti, Honduras, Nicarágua e Panamá, declararam guerra à Alemanha. Apenas o Brasil, porém, enviou um contingente de tropas para a frente de batalha. Três outros países cortaram relações diplomáticas com a Alemanha, mas a Argentina e outras oito nações permaneceram neutras. Após a guerra, a maioria dos países latino-americanos ingressou na Liga das Nações. Na Segunda Guerra Mundial, os latino-americanos recrutaram soldados para dar apoio aos Estados Unidos depois que o Japão atacou a base norte-americana de Pearl Harbor, Havaí, em dezembro de 1941. Todos declararam guerra às forças do Eixo, embora somente Brasil e México tenham fornecido tropas aos Aliados. Os países latino-americanos tomaram-se membros das Nações Unidas. Formam um dos grupos mais fortes na Assembleia Geral das Nações Unidas. Economia. A maior ou menor presença de população ativa no setor primário é um dos elementos que caracterizam o grau de desenvolvimento de uma região. Considerando que a América Latina reúne países em desenvolvimento (a exceção é o Haiti, o único país da região considerado subdesenvolvido), é natural que grande parte da população ocupa o setor primário. Somente alguns países apresentam significativas parcelas da população economicamente ativa no setor secundário. Mas, é o setor terciário que mais tem crescido em quase todos os países latino-americanos. Extrativismo e agropecuária. A caça, como base econômica de sobrevivência, é praticada na América somente por esparsos grupos indígenas em via de integração. A pesca, além de atividade econômica de valor regional para todos os países que apresentam extensões litorâneas, tem especial importância para o Peru, maior exportador de pescado da América Latina, embora o Chile seja o maior produtor. O extrativismo vegetal aparece sempre como atividade complementar da agricultura e da pecuária, merecendo destaque a extração do látex da seringueira, em toda a Floresta Amazônica (Brasil, Colômbia, Peru e Bolívia); do quebracho, no Pantanal (Argentina, Paraguai e Brasil); de madeira, em quase toda a América Central, Brasil e Chile; e ainda de babaçu e carnaúba, no Brasil. O extrativismo mineral tem considerável importância em praticamente todos os países latino-americanos, ainda que muitas vezes a exploração seja realizada graças a capitais estrangeiros. Na extração do petróleo, possuem grande destaque México, Venezuela, Brasil, Argentina, Colômbia e Equador. O Brasil é o segundo produtor mundial de ferro; o Chile, o Peru, sendo o Chile o maior produtor do mundo; o Brasil é um dos cinco maiores produtores mundiais de manganês, além de grande produtor de estanho, minério do qual a Bolívia é grande exportadora. A América Latina destaca-se ainda por sua produção de chumbo (Peru e México), níquel (Cuba), prata (México e Peru), zinco (Peru), bauxita (Brasil e Venezuela) e platina (Colômbia). A América Latina, que inclui essencialmente países subdesenvolvidos, de maneira geral é pouco industrializada, ficando sua economia subordinada à agropecuária e à mineração. Mesmo com essa dependência agrícola, a maior parte de suas terras é cultivada de forma extensiva e possui um reduzido PIB per capita. Em muitos países, a atividade agrícola ainda se desenvolve segundo os moldes do período colonial: grandes propriedades, pertencentes a poucas famílias, cuja produção se destina quase integralmente ao mercado externo. Devido principalmente à concentração das terras mais férteis nas mãos de poucos proprietários e ao grande número de agricultores sem terras para cultivar, surgiram nessas áreas muitos conflitos fundiários, o que originou projetos de reforma agrária que visam à distribuição mais igualitária da terra, em países como México, Bolívia, Chile, Peru e Cuba. Em todos os países da América Latina é possível identificar basicamente dois tipos de agricultura: a de subsistência, praticada com o uso de técnicas primitivas, e a de caráter comercial, em geral monoculturas realizadas em grandes extensões de terra e, com frequência, dependentes de investimentos estrangeiros. Como exemplos característicos desse sistema, podemos citar o café, responsável por uma parte substancial das rendas de exportação da Colômbia, Costa Rica, Guatemala e El Salvador, e a banana, com igual importância para o Panamá e Honduras, além de outros produtos de menor expressão. A pecuária, atividade de grande destaque na América Latina, é praticada em todos os países, ainda que de formas diferentes. A pecuária extensiva é realizada em grandes propriedades e sem o emprego de técnicas especiais; já na intensiva, utilizam-se técnicas de seleção do plantio, isto é, animais de boa raça, e cultivam-se pastagens. Os rebanhos mais numerosos na América latina, pela ordem, são os de bovinos, suínos e ovinos. Brasil, Argentina e México são os países que possuem a maior quantidade de cabeças de gado. Significativa parte do desenvolvimento da agropecuária de alguns países, especialmente Brasil, Argentina e Uruguai, deve-se às cooperativas agropecuárias desses países, organizadas a partir do início do Século XX. Hoje elas detêm significa parcela da economia agropecuária e são responsáveis pela organização da produção, pela armazenagem, processamento e comercialização de muitos produtos, especialmente leite, suínos, aves, soja, milho, trigo, arroz e algodão, entre outros. As cooperativas voltadas à produção de grãos, a partir da década de 1970, passaram a investir no processamento da produção, inicialmente no esmagamento da soja para produção de óleo degomado, depois no seu refino e, mais tarde, na produção de produtos destinados ao varejo, como óleo comestível, margarinas, maioneses e outros. As cooperativas também investiram pesadamente na organização da produção de aves e suínos, no seu processamento e comercialização nos mercados interno e externo. A consequência dessa atuação foi a ampliação da produção, o enriquecimento das comunidades do interior e a agregação de valor à produção. O mais importante de tudo, no entanto, é que essa atuação das cooperativas propiciou a contínua e crescente libertação dos agricultores associados do jugo da intermediação na comercialização da produção. Embora o sistema cooperativista tenha vivenciado, também, crises de várias cooperativas em vários estados, por razões as mais diversas, os benefícios das cooperativas sobrevivente são infinitamente maiores do que os problemas que atravessaram. No Brasil, as cooperativas agropecuárias estão mais presentes nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, que são as principais regiões agrícolas. Os quatro países com a maior agricultura na América do Sul são Brasil, Argentina, Chile e Colômbia: Na América Central, destacam-se: O México é o maior produtor mundial de abacate, um dos cinco principais produtores mundiais de pimenta, limão, laranja, manga, mamão, morango, toranja, abóbora e aspargos, e um dos 10 maiores produtores mundiais de cana-de-açúcar, milho, sorgo, feijão, tomate, coco, abacaxi, melão e mirtilo. O Brasil é o maior exportador mundial de carne de frango: 3,77 milhões de toneladas em 2019. O país é dono do segundo rebanho do maior rebanho bovino do mundo, 22,2% do rebanho mundial. O país foi o segundo maior produtor de carne bovina em 2019, responsável por 15,4% da produção mundial. Foi também o terceiro maior produtor de leite do mundo em 2018. Este ano o país produziu 35,1 bilhões de litros. Em 2019, o Brasil era o 4º maior produtor de carne de porco do mundo, com quase 4 milhões de toneladas. Em 2018, a Argentina era o quarto maior produtor de carne bovina do mundo, com uma produção de 3 milhões de toneladas (atrás apenas dos Estados Unidos, Brasil e China). O Uruguai também é um grande produtor de carne bovina. Em 2018, produziu 589 mil toneladas. Na produção de carne de frango, o México está entre os 10 maiores produtores do mundo, a Argentina entre os 15 maiores e Peru e Colômbia entre os 20 maiores. Na produção de carne bovina, o México é um dos 10 maiores produtores do mundo e a Colômbia um dos 20 maiores produtores. Na produção de suínos, o México está entre os 15 maiores produtores do mundo. Na produção de mel, a Argentina está entre os 5 maiores produtores do mundo, o México entre os 10 maiores e o Brasil entre os 15 maiores. Em termos de produção de leite de vaca, o México está entre os 15 maiores produtores do mundo e a Argentina entre os 20. Na produção de petróleo, o Brasil foi o 10º maior produtor mundial de petróleo em 2019, com 2,8 milhões de barris/dia. O México foi o 12º maior produtor, com 2,1 milhões de barris/dia. A Colômbia vinha em 22º lugar com 886 mil barris/dia, a Venezuela em 23º lugar com 877 mil barris/dia, o Equador em 28º com 531 mil barris/dia e a Argentina em 29º com 507 mil barris/dia. Como a Venezuela e o Equador consomem pouco petróleo e exportam a maior parte de sua produção, eles fazem parte da OPEP. A Venezuela registrou uma queda acentuada na produção após 2015 (onde produziu 2,5 milhões de barris/dia), caindo em 2016 para 2,2 milhões, em 2017 para 2 milhões, em 2018 para 1,4 milhões e em 2019 para 877 mil, por falta de investimentos. Na produção de gás natural, em 2018, a Argentina produziu 1,524 bcf (bilhões de pés cúbicos), o México 999, a Venezuela 946, Brasil 877, Bolívia 617, Peru 451, Colômbia 379. O Brasil é o segundo maior exportador mundial de minério de ferro, possui 98% das reservas conhecidas de nióbio no mundo e é um dos 5 maiores produtores mundiais de bauxita, manganês e estanho, além de ter produções consideráveis de cobre, ouro e níquel. O Chile contribui com cerca de um terço da produção mundial de cobre. Em 2018, o Peru era o segundo maior produtor de prata e cobre do mundo e o sexto produtor de ouro (os 3 metais que mais geram valor), bem como era o terceiro maior produtor mundial de zinco e estanho e o quarto de chumbo. A Bolívia é o quinto maior produtor de estanho, o sétimo produtor de prata e o oitavo produtor de zinco do mundo. O México é o maior produtor de prata do mundo, representando quase 23% da produção mundial, produzindo mais de 200 milhões de onças em 2019. Também possui importantes cobre e zinco e produz uma quantidade significativa de ouro. Acerca das pedras preciosas, o Brasil é o maior produtor mundial de ametista, topázio, ágata e é um dos principais produtores mundiais de turmalina, esmeralda, água marinha, granada e opala. Também há produção considerável de ametista no Uruguai e na Bolívia. Na produção de esmeralda, a Colômbia é o maior produtor mundial. A Guiana é um grande produtor de diamante. Indústria e comércio. O Banco Mundial lista os principais países produtores a cada ano, com base no valor total da produção. Pela lista de 2019, o México tem a 12ª indústria mais valiosa do mundo (US$ 217,8 bilhões), o Brasil tem a 13ª indústria mais valiosa do mundo (US$ 173,6 bilhões), a Venezuela a 30ª maior (US$ 58,2 bilhões, mas depende do petróleo para obter esse valor), a Argentina era a 31ª maior ($ 57,7 bilhões), Colômbia a 46º maior ($ 35,4 bilhões), Peru a 50º maior ($ 28,7 bilhões) e Chile a 51º maior ($ 28,3 bilhões). O Brasil é o líder industrial da América do Sul. Na indústria de alimentos, o Brasil foi o segundo maior exportador mundial de alimentos processados ​​em 2019. Em 2016, o país foi o 2º produtor de celulose no mundo e o 8º produtor de papel. No setor de calçados, em 2019, o Brasil ocupou o 4º lugar entre os produtores mundiais. Em 2019, o país foi o 8º produtor de veículos e o 9º produtor de aço do mundo. Em 2018, a indústria química brasileira ocupava a 8ª posição mundial. Na indústria têxtil, o Brasil, embora estivesse entre os 5 maiores produtores do mundo em 2013, estava mal integrado ao comércio mundial. No setor de aviação, o o Brasil tem a Embraer, a terceira maior fabricante de aeronaves do mundo, atrás apenas da Boeing e Airbus. Na América Latina, são apenas três países que se destacam pela produção industrial: Brasil, Argentina, México e, em menor escala o Chile. Iniciada tardiamente, a industrialização desses países tomou grande impulso a partir da Segunda Guerra Mundial: esta impediu os países em guerra de comprar os produtos que estavam habituados a importar e de exportar o que produziam. Nessa época, beneficiando-se das abundantes matérias-primas locais, dos baixos salários pagos à mão de obra e de uma certa especialização trazida pelos imigrantes, países como Brasil, México e Argentina, além de Venezuela, Chile, Colômbia e Peru, puderam implantar expressivos parques industriais. De maneira geral, nesses países sobressaem indústrias que exigem pouco capital e tecnologia simples para sua instalação, como as indústrias de beneficiamento de produtos alimentícios e têxteis. Destacam-se também as indústrias de base (siderúrgicas, etc.), além das metalúrgicas e mecânicas. Os parques industriais brasileiro, mexicano, argentino e chileno apresentam, contudo, uma diversidade e sofisticação muito maiores, produzindo artigos de avançada tecnologia. Nos demais países latino-americanos, principalmente da América Central, predominam indústrias de beneficiamento de produtos primários para exportação. A porcentagem de população ativa empregada no setor terciário depende bastante do nível de desenvolvimento de cada país. É maior nas nações latinas mais industrializadas - Brasil, Argentina, Colômbia e México -, reduzindo-se nos demais países. Assim, a atividade comercial, que é a mais importante desse setor, apresenta pesos diferentes conforme o país, ainda que constitua uma importante fonte de recursos. As exportações da maior parte dos países da América Latina ainda se apoiam em produtos naturais, cujos preços no mercado internacional oscilam muito, não representando grande aumento de divisas. Um dos fatores que criam sérias dificuldades ao desenvolvimento econômico e à integração social da América Latina é a relativa carência de vias de transporte em boas condições de uso. As dificuldades impostas pelo relevo; a tropicalidade dominante do clima, caracterizada por chuvas freqüentes; o predomínio de rios de planalto, dificultando a navegação; e a densidade da vegetação, quase intransponível em certos trechos, são fatores naturais que têm de ser vencidos. Mas é principalmente a ausência de recursos financeiros para a construção de modernos portos, grandes rodovias, comportas fluviais ou aeroportos modernos, que impede que essa parte do continente apresente uma densa malha de circulação. Entre os países latino-americanos, os mais industrializados são, naturalmente, os mais bem servidos nessa área, ainda que em todos eles haja grandes deficiências quanto aos meios de transporte. Na região mais densamente povoada da América do Sul e servida pela bacia dos rios Paraná, Paraguai e Uruguai (bacia Platina) vem sendo desenvolvida uma hidrovia que fará a interligação fluvial entre os quatro países do sudeste do continente. Cultura. A literatura latino-americana inclui as obras de escritores dos países americanos de língua espanhola e do Brasil. A maioria dos compositores latino-americanos copiou o estilo musical europeu até o final do século XIX, quando criaram seu próprio estilo. O compositor brasileiro Antônio Carlos Gomes (1839-1896) usou temas indígenas em sua ópera "O Guarani". O mesmo fizeram, posteriormente, outros compositores, inclusive o chileno Carlos Lavín, o peruano Daniel Alomías Robles (1871-1942), e o guatemalteco Jesús Castillo (1877-1946). Na Bolívia, Equador, México, Peru e outros países latino-americanos parte da música mais característica vem diretamente dos índios. Parte da música latino-americana também mistura tristes melodias indígenas com alegres canções espanholas. O resultado é chamado música mestiça. Portugueses, índios e negros influenciaram a música no Brasil. No Caribe, a música negra e espanhola misturou-se para produzir a "rumba" e outras músicas típicas. O público de todo o mundo aprecia a música de compositores latino-americanos de destaque, como o brasileiro Heitor Villa-Lobos (1887-1959) e o mexicano Carlos Chávez (1899-1978). Entre outros compositores importantes destacam-se: Alberto Williams (1862-1952), da Argentina, Enrique Soro (1884-1954) e Domingo Santa Cruz Wilson (1899-1987), do Chile, Manuel Ponce (1882-1948), do México, e Eduardo Fabini, do Uruguai. Os pianistas Guiomar Novaes (1895-1979), do Brasil, Claudio Arrau (1903-1991), do Chile, e a cantora de ópera Bidu Sayão (1902-1999), do Brasil, também atingiram fama internacional. Muitas canções folclóricas latino-americanas servem tanto para cantar como para dançar. A América Latina tem muitas danças alegres e pitorescas, além dos famosos "tango", "rumba" e "samba". Uma delas é o "pericón", da Argentina e Uruguai, em que diversos pares dançam em círculo. Há também o "maxixe", a "ciranda", o "frevo", o "coco" e outras do Brasil. Durante o carnaval, os latino-americanos freqüentemente constroem tablados para dançar nos jardins e praças públicas, além de isolarem certas ruas com cordas, com a mesma finalidade. Esta forma de expressão é uma parte importante da vida na América Latina. Os índios e negros que vivem no interior têm suas próprias danças que, quase sempre, são de caráter religioso. As danças formam uma parte importante dos festejos dos feriados. Belas artes. Os espanhóis incentivaram a arte logo após a conquista da América Latina. Abriram uma escola de arte na Cidade do México, em 1530 e, logo após, uma outra em Quito, no Equador. Durante o período colonial, os artistas geralmente pintavam quadros sobre temas religiosos. Depois que as nações latino-americanas tornaram-se independentes, muitos artistas foram para a Europa aperfeiçoar seus estudos. Até meados do século XX, perdurou uma fase de imitação dos estilos europeus. Foi então que os artistas latino-americanos voltaram-se para temas americanos e criaram seus próprios estilos. O pintor argentino Prilidiano Pueyrredón (1823-1870) tomou-se famoso pelos quadros que retratavam a vida dos gaúchos. Os murais revolucionários de Diego Rivera (1886-1957), José Clemente Orozco (1883-1949), e David Alfaro Siqueiros (1898-1974) expressam a história do México e a luta da humanidade pela liberdade. Camilo Blas (1903-1985) e Júlia Codesido (1892-1979) pintam cenas peruanas. Um importante grupo do Haiti baseia seus trabalhos no folclore e na vida diária dos negros. O artista brasileiro Cândido Portinari (1903-1962) pintava cenas que retratam o brasileiro comum, o povo. Há um mural de sua autoria no edifício da Organização das Nações Unidas, em Nova Iorque. Muitos índios da América Latina eram excelentes escultores muito antes que os brancos chegassem ao hemisfério ocidental. Painéis esculpidos na pedra e imensas colunas com formas de serpentes ou de figuras humanas decoram antigas edificações índias, em muitas partes da América Latina. Os trabalhos mais importantes do período colonial foram as esculturas em pedra e as imagens religiosas esculpidas em madeira e pintadas em dourado, que eram usadas para decorar as igrejas. O escultor e arquiteto brasileiro Antônio Francisco Lisboa (1730-1814), que tinha a alcunha de "O Aleijadinho", foi o criador de excelentes esculturas durante este período. Atualmente, o trabalho da escultora boliviana Marina Núñez del Prado (1910-1995) está entre o que há de melhor na América Latina. Ainda existem, na América Latina, edificações erguidas por arquitetos índios centenas de anos antes da conquista europeia. Os astecas, toltecas e maias construíram grandes templos de pedra no topo de enormes pirâmides no México e na América Central. Os incas eram excelentes construtores. Suas edificações na América do Sul são tão resistentes que até hoje mantêm-se firmes, suportando violentos terremotos que causam graves danos a edifícios modernos. As igrejas e catedrais, geralmente construídas no trabalhado estilo espanhol dos séculos XVII e XVIII, representam a arquitetura mais importante do período colonial da América Latina, O brasileiro Oscar Niemeyer (1907-2012) projetou muitos edifícios notáveis, no Brasil, desde 1937. Foi o principal arquiteto-projetista das edificações de Brasília. Muito antes da chegada de Cristóvão Colombo à América, os índios da América Latina já eram excelentes artesãos em barro, metal e tecelagem. Ainda fazem coloridas peças de cerâmica e artigos tecidos à mão, além de peças em cobre, prata e estanho.
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Albino Forjaz de Sampaio
Albino Forjaz de Sampaio Albino Maria Pereira Forjaz de Sampaio (Lisboa, 19 de Janeiro de 1884 — Lisboa, 13 de Março de 1949) foi um escritor e bibliógrafo português, autor de um dos livros mais vendidos em Portugal durante o século XX, "Palavras Cínicas", lançado em 1905, que à morte do autor tinha já 46 edições. Início de carreira. Albino Forjaz de Sampaio começou a sua carreira literária aos 16 anos como jornalista no jornal "A Lucta" sob o patronato de Fialho de Almeida e Brito Camacho. O seu percurso teve duas fases distintas, um pouco como a sua escrita. Se de início a sua escrita aprendeu muito do jornalismo, o falar da rua, do submundo lisboeta, a resposta rápida, numa segunda fase procurou legitimar essas características com formas arcaicas e coloquialismos de origem erudita que foi encontrar nas suas investigações sobre o antigo teatro popular. Crónica de crítica social. A crónica de crítica social que procurava inverter a moral comum da época tornou-o famoso sobretudo pelo escândalo que as suas opiniões originavam. Fazia-o um pouco à maneira de Oscar Wilde mas num país ainda menos preparado para tais agitações. Daí que a sua estreia tenha sido estrondosa (embora as crónicas jornalísticas que já publicara o anunciassem), com o livro "Palavras Cínicas" que, no começo do século (1905), deixava os portugueses tudo menos indiferentes: muitos criticaram, outros riram, alguns elogiaram. Neste livro Sampaio tentava subverter a moral vigente, emitindo juízos anticlericais, contra a crendice popular, e a "esperteza" saloia, e deixando clara a sua opinião de que a vida não vale a pena no mundo em que se vivia. A partir deste sucesso, Forjaz de Sampaio levou a sua crítica social ao ponto de criar uma arte da crítica ou, como o poria Wilde, a crítica pela crítica. Com humor, cinismo e uma ausência completa de consciência social a obra de Forjaz de Sampaio "fez-se" como a de muitos escritores que "ninguém lê" mas que esgotam edições atrás de edições. O acme deste género, de que foi o único cultor em Portugal, foi atingido com "Crónicas Imorais" (1909) e continuou com "Prosa Vil" (1911), "Cantáridas e Violetas" (1915), "Tibério, Filósofo e Moralista" (1918), e "O Homem que deu o seu Sangue" (1921), entre outros. Tem colaboração nas revistas "Serões" (1901-1911), "Illustração portugueza" (1903-1923), "A Sátira" (1911), na II série da revista "Alma nova" (1915-1918) e ainda, nas publicações da Câmara Municipal de Lisboa: "Anais das bibliotecas, arquivo e museus municipais" (1931-1936) e no "Boletim cultural e estatístico" (1937). Obras naturalistas. O segundo género que desenvolveu, de menor interesse e originalidade de acordo com Óscar Lopes, foi o naturalismo com tendências decadentistas que desenvolveu em volumes de contos e algumas novelas. Tinha este género já alguns precursores como Raul Brandão e sofria a influência das filosofias de Nietzsche ou Schopenhauer (de quem aliás Forjaz de Sampaio traduziu "As Dores do Mundo"). É a vertente da obra do autor que menos interesse suscitará senão pelo quadro da miséria em Portugal que descreve com rigor jornalístico. A precisão da descrição interessará muitos olissipógrafos pelos conhecimentos profundos que revela de um submundo lisboeta que mais nenhum escritor da época descrevia em tanto pormenor. Técnica e inovações. A escrita de Forjaz de Sampaio é um mundo a descobrir. O escritor desenvolveu uma linguagem muito sua inventando inúmeros vocábulos e passando para o papel uma série de coloquialismos originais e que muito ajudavam construção do humor que os seus escritos patenteavam. Como muitos dos escritores seus contemporâneos, Forjaz de Sampaio era um artista da frase, da máxima (em 1922 dava ao prelo Mais Além do Amor e da Morte, um livro de máximas e pensamentos). Toda a sua escrita era constituída por um conjunto de artifícios que visavam o culminar numa máxima / frase central que muitas vezes era igualmente o contrário do argumento que tinha vindo a elaborar. O seu ensejo de escandalizar levava a algumas inovações no mundo editorial de então, em 1916 Forjaz de Sampaio reuniu-se com o pintor Bento de Mântua no sentido de elaborar a obra O Livro das Cortesãs, tratava-se de uma antologia de poetas portugueses e brasileiros (da poesia trovadoresca até aos poetas contemporâneos) cujos poemas tivessem por tema as prostitutas e a prostituição. A crítica mordaz, a frase curta e incisiva e o seu “linguajar ofensivo” fizeram de Forjaz de Sampaio um dos escritores mais amados mas também um dos mais odiados da literatura portuguesa. As suas obras são extremamente actuais na crítica que fazem de uma sociedade que perde os seus valores e ideologias. Na maneira como vê o jornalismo sensacionalista e a sua influência sobre as massas. Na forma como via o curso que o panorama cultural português levava. Na crise que anunciava a II Guerra Mundial. Na forma como anunciava a morte da literatura pela morte da leitura... Quem hoje ler essas crónicas de Albino Forjaz de Sampaio poderá certamente considerá-lo o Jules Verne da sociedade portuguesa pela forma como as suas predições vieram a realizar-se. Estes dois géneros foram essencialmente desenvolvidos na primeira fase da sua carreira. Uma segunda fase da sua carreira começou a verificar-se por volta da década de 1920. Se até aí Forjaz de Sampaio tinha sido o menos canónico dos escritores, de um momento para o outro o escritor começa a interessar-se pela história da literatura portuguesa, torna-se um bibliófilo acérrimo. Rapidamente e através do seu conhecimento do submundo lisboeta Forjaz de Sampaio reúne de vários pequenos alfarrabistas um enorme espólio da literatura popular o que resulta na publicação de Teatro de Cordel (1920-1922), ainda hoje um dos melhores estudos de conjunto sobre o teatro português nos séculos XVII, XVIII e inícios do século XIX. Esta publicação editada pela Academia das Ciências de Lisboa mereceu ao autor, até então considerado “vulgar e rasteiro” a condição de Sócio Honorário da mesma Academia. Com efeito, se bem que já em 1916 no livro Grilhetas juntasse alguns textos sobre escritores e obras literárias (um dos quais um genial ensaio sobre os problemas financeiros de Camilo Castelo Branco e a influência que tiveram no percurso literário do escritor, ensaio elaborado a partir de um conjunto de documentação que o Forjaz de Sampaio adquirira por «tuta e meia» de que constava a correspondência de Camilo com os seus editores e a contabilidade destes últimos), é a partir da publicação de Teatro de Cordel que Forjaz de Sampaio vê serem-lhe reconhecidos os primeiros méritos por um mundo literário português que até então o desprezara porque o receava. Neste processo de institucionalização a publicação de sequência de obras de investigação literária e o jornalismo deste mesmo jaez seguem-se a um ritmo alucinante, Homens de Letras (1930), a colecção “Patrícia” dedicada aos maiores vultos da literatura portuguesa publicada a partir de 1924 (sob o patrocínio do Diário de Notícias) e em perto de 30 volumes e a sua monumental História Ilustrada da Literatura Portuguesa em três volumes são disso exemplo. Nos últimos anos da sua vida, Albino Forjaz de Sampaio dedicou-se essencialmente aos estudos de biblioteconomia, à história do livro e da tipografia. Publicou alguns volumes de cariz eminentemente nacionalista na sequência da política de espírito criada por António Ferro. Foi iniciado na Maçonaria em 1924 na Loja Irradiação, de Lisboa, com o nome simbólico de Erasmo. Morreu em Lisboa, a sua cidade de eleição, a escrever um artigo para um jornal. Forjaz de Sampaio nunca se afirmou um escritor mas bradou aos quatro ventos que era um “jornalista levado dos diabos”. Dele disse Almada Negreiros no seu "Manifesto Anti-Dantas": Bibliografia completa. Albino Forjaz de Sampaio é autor das seguintes obras publicadas: O autor prefaciou obras de: Obras relacionadas:
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Anno Domini
Anno Domini Anno Domini (A.D.) é uma expressão em latim que significa "no ano do Senhor" e é utilizada para marcar os anos seguintes ao ano 1 do calendário mais comumente utilizado no Ocidente, designado como "Era Cristã" ou, ainda, como "Era Comum". Aparecia em inscrições latinas e ainda é usada na língua inglesa, correspondendo à expressão "depois de Cristo" (DC, D.C. ou d.C.) e em sucessão ao período "antes de Cristo" (AC, A.C. ou a.C.). Era cronológica. Esta era cronológica "("Era Cristã" ou "Era Comum")", que é globalmente adotada, mesmo em países de cultura maioritariamente não cristã, para efeitos de unanimidade de critérios em vários âmbitos, como o científico e comercial, foi organizada de forma a contar o ano do nascimento de Cristo como ano 1, marcando uma linha divisória no tempo a partir de então. A contagem dos anos assemelha-se à ordem dos números inteiros (com a exceção de que não existiu um ano zero - pelo que o ano foi imediatamente sucedido pelo ano ), pelo que também é comum referir os anos antes de Cristo por números inteiros negativos e os anos depois de Cristo por números inteiros positivos. Utiliza-se, nesta forma de datação, os calendários Juliano e Gregoriano. O termo "Anno Domini" é, por vezes, substituído pela expressão mais formal e descritiva Anno Domini Nostri Iesu Christi ("Ano de Nosso Senhor Jesus Cristo"). É, por vezes, ainda substituído pela expressão na era da Graça. A forma de datação segundo o "Anno Domini" foi primeiramente utilizada na Europa Ocidental durante o . Portugal foi um dos últimos países a adotar o novo método, imposto pelo rei Dom João I, a 15 de Agosto de 1422, em substituição da "era de César". A Espanha já o usava desde meados do século precedente. Nem todos os países seguem o calendário ocidental: judeus e muçulmanos, por exemplo, organizam anos e meses de maneiras diferentes. Contudo, é o padrão internacional, sendo reconhecido por instituições internacionais como a Organização das Nações Unidas ou a União Postal Universal. Isso justifica-se tanto pelo peso da tradição ocidental quanto pelo facto de que o Calendário Gregoriano foi, durante muito tempo, considerado astronomicamente correto. Eras utilizadas pelos primeiros cristãos. A datação "Anno Domini" só foi adotada na Europa Ocidental a partir do . Tal como os outros habitantes do Império Romano, os primeiros cristãos usavam diversos métodos para especificar os anos, inclusive no mesmo documento. Tal redundância tornou-se útil para os historiadores que puderam, assim, elaborar tabelas comparativas de reinados e outros períodos políticos, com dados de crónicas de diferentes regiões, sob os mesmos governantes. Datação consular. Uma das formas mais comuns e mais antigas consistia na datação consular, que consistia em nomear os dois "consules ordinarii" que iniciavam o seu exercício a 1 de Janeiro do ano civil. Por vezes, a designação para o cargo de um dos cônsules, ou mesmo dos dois, podia não ocorrer até Novembro ou dezembro do ano precedente, pelo que, como as notícias levavam meses a chegar aos pontos mais afastados do Império, existem documentos em que o ano é definido como "depois do consulado de...". Datação a partir da fundação da cidade. Outro método de datação, raramente usado, consistia no "anno urbis conditae", ou "no ano da fundação da Cidade" (abreviadamente, AUC), sendo "a Cidade" Roma. (Note-se que, apesar de ser uma confusão frequente, a abreviatura AUC não significa exatamente "ab urbe condita", que é o título da História de Roma escrita por Tito Lívio, e que se adoptou para nomear esta era). A data da fundação de Roma era disputada entre os próprios romanos, mas os historiadores modernos adoptam, geralmente, a data proposta por Varrão, de . No início do , o historiador ibero Orósio usava a era "ab urbe condita". O papa Bonifácio IV, no início do , terá sido o primeiro a utilizar, simultaneamente, esta forma de datação, e o "Anno Domini", equivalendo a data de 607 = 1360 "anno urbis conditae". Anos de reinado dos imperadores romanos. Outro sistema, menos usado do que é frequente pensar-se, consistia na indicação do ano de reinado de cada imperador romano. No início, Augusto indicava os anos do seu governo contando as vezes em que foi investido no cargo de cônsul, ou as vezes em que o Senado de Roma renovava os seus privilégios tribunícios, alimentando a ideia de que os seus poderes lhe eram legitimamente adjudicados por estes órgãos de poder e não pelo fato de aproveitar o culto da personalidade de que já gozava, além do número de legiões sob o seu controlo. Os seus sucessores seguiram tal prática até que a memória da República Romana se foi esbatendo (nos final do ou início do III), quando começaram a usar explicitamente o seu ano de reinado. Também a pacificação de uma região por Augusto serviu como ponto de partida para um calendário. A Era Hispânica ou Era de César, que foi um calendário usado na Península Ibérica durante mais de um milênio, tinha como ano-base o ano da imposição de uma nova taxa regular de impostos sobre os Ibéricos por Augusto, o que foi um marco simbólico do início da Pax romana sobre as províncias da Hispânia; muito embora outro motivo para o surgimento deste calendário pudesse ter sido a renovação do acordo do Triunvirato, que confirmou a Augusto o poder sobre a Península. Ciclos das indicções. Os ciclos de indicção (do latim "indictio") consistiam em quinze anos (cada um igual a uma "indicção") que marcavam um ciclo determinado por um imposto, contando-se os anos a partir da data em que este era pago. Jesus Cristo nasceu no quinto ano deste ciclo. Tal sistema, usado na Gália, no Egipto até à conquista Islâmica, no Império Romano do Oriente até à sua queda em 1453 e ainda na Santa Sé durante parte da Idade Média. Outros sistemas. Coexistiam, ainda vários sistemas locais de datação ou eras de alguma importância, tal como o ano de fundação de uma dada cidade, o ano de reinado dos imperadores persas e, mesmo, o ano de governo de um dado califa. Particularmente importantes foram a Era dos selêucidas (em uso até ao ) e a Era de César (ou "Era Hispânica"). Da mesma forma, na Europa, até ao , não existia unanimidade quanto ao primeiro dia do ano, não sendo consensual, exceto em Inglaterra, datá-lo no primeiro dia de Janeiro. História. Os primeiros cristãos nomeavam cada ano usando, combinadas, as datações consulares, os anos de reinado imperial e a datação a partir da criação do mundo. A datação consular foi extinta quando o imperador Justiniano I deixou de nomear cônsules em meados do . Pouco depois, tornava-se oficial a datação pelo ano de reinado imperial. O último cônsul a ser nomeado foi Anício Fausto Albino Basílio em 541. A Santa Sé manteve, entretanto, um contato regular, durante a Idade Média, com embaixadores do Império Bizantino, pelos quais sabia com alguma certeza qual o imperador no trono, apesar do número elevado de mortes súbitas e deposições que se sucediam. O sistema do "Anno Domini" foi desenvolvido em Roma por um monge cita, Dionísio, o Exíguo, em 527, como resultado secundário do seu trabalho no cálculo da data da Páscoa cristã. Cronistas bizantinos, como Teófanes, o Confessor, mantinham, entretanto, critérios judaico-cristãos para as datas referidas nas suas crónicas universais, como a datação a partir da suposta data da criação do mundo por graça divina, de acordo com cálculos efetuados por estudiosos cristãos nos primeiros cinco séculos da Era Cristã. Tais eras, por vezes designadas como "Anno Mundi", "ano do Mundo" (de forma abreviada, AM), pelos acadêmicos atuais, nem sempre concordavam umas com as outras, existindo grandes discrepâncias. Nenhuma era de "Anno Mundi" dominava entre os vários estudiosos, ainda que a calculada por Eusébio de Cesareia, historiador na época de Constantino I. São Jerónimo, tradutor da Bíblia para o latim, foi um dos principais divulgadores no ocidente da era AM calculada por Eusébio. Outra era AM, especialmente adoptada no Oriente durante os primeiros séculos do Império Bizantino foi desenvolvida pelo monge Aniano de Alexandria. Sobre a data do nascimento de Jesus. Os cálculos feitos pelo monge Dionísio, o Exíguo, para datar o nascimento de Jesus Cristo são, em geral, considerados incorretos pela maioria dos acadêmicos bíblicos, julgando-se que teria ocorrido entre 8 e . Sabe-se que Jesus terá nascido antes da morte de Herodes, o Grande, no ano - ano este que é determinado pelas informações dadas por Flávio Josefo quanto aos eclipses lunares ocorridos na Páscoa e aos acontecimentos que acompanharam a sua morte, tal como foi calculado por Kepler. Popularização. O primeiro historiador ou cronista a usar o Anno Domini como mecanismo de datação principal foi Vítor de Tununa, escritor africano do . Poucas gerações depois, o historiador anglo-saxão Beda, que conhecia bem o trabalho de Dionísio, voltou a usar o "Anno Domini" na sua "Historia eclesiástica gentis Anglorum," ("História eclesiástica do povo inglês) terminada em 731. Foi nesta obra que se usou pela primeira vez o equivalente, em latim, de "antes de Cristo" ("Ante Christum" - A.C.), estabelecendo o padrão da não existência de ano zero - ainda que tenha usado o zero no seu computus, ou determinação da Páscoa cristã. Tanto Dionísio como Beda dataram o Anno Domini como sendo o momento da encarnação ou concepção de Jesus Cristo por Graça do Espírito Santo e não no seu nascimento, aproximadamente nove meses depois. A implantação do novo sistema foi gradual, primeiro em Itália e depois no resto do mundo cristão. A região de Inglaterra foi uma das primeiras a adotar o "Anno Domini", graças à influência dos missionários romanos, como se pode verificar em documentos do . No continente Europeu, o "Anno Domini" foi a era de eleição de Alcuíno de Iorque, durante a Renascença Carolíngia. A adoção do novo sistema de datação por Carlos Magno e pelos seus sucessores está na origem do sucesso do mesmo nos séculos seguintes, até a época atual. Na Gália, o sistema só tornou-se vulgar a partir do ano 1000, o que justifica que os franceses usassem o termo "millésime" para designar os anos da era Cristã. Fora do Império Carolíngio, a Hispânia continuava a seguir a Era Hispânica (ou "dos Césares"), que se iniciara em , até bem tarde na Idade Média. A Era dos Mártires, que numerava os anos a partir da ascensão ao trono de Diocleciano, em 284, e que marcava o início da última e mais severa perseguição aos cristãos manteve-se no Oriente, sendo ainda atualmente utilizada pelos cristãos coptas, bem como, durante muito tempo, pela Igreja Ortodoxa Etíope. Outro sistema recorria à datação a partir da data da crucificação de Jesus Cristo, que Hipólito, Lactâncio, Agostinho e Tertuliano situavam em , durante o consulado dos Gêmeos (Lúcio Rubélio Gêmino e Caio Fúfio Gêmino). Ainda que o "Anno Domini" já fosse comum no , a designação "antes de Cristo", ou outra equivalente só se tornou vulgar a partir do final do .
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Aquiles
Aquiles Aquiles (), na mitologia grega, foi um herói da Grécia, um dos participantes da Guerra de Troia e o protagonista e maior guerreiro da "Ilíada", de Homero. Aquiles tem ainda a característica de ser loiro e o mais belo dos heróis reunidos contra Troia, assim como o melhor entre eles. A figura de Aquiles foi sendo moldada por diversos autores num espaço de mil anos, o que explica suas diversas contradições. A mais conhecida é a que fala que Aquiles era invulnerável em todo o seu corpo por se banhar no rio Estige, exceto em seu calcanhar (conforme um poema de Estácio, no ). Segundo estas versões de seu mito, sua morte teria sido causada por uma flecha envenenada que o teria atingido exatamente nesta parte de seu corpo, desprotegida da armadura. A expressão "calcanhar de Aquiles", que indica a principal fraqueza de alguém, teria aí a sua origem. As obras literárias (e artísticas em geral) em que Aquiles aparece como herói são abundantes. Para além da "Ilíada" e da "Odisseia" - onde é mostrada o destino de Aquiles após a sua morte - pode-se destacar, ainda, a tragédia "Ifigénia em Áulide", de Eurípides, "imitada" mais tarde pelo dramaturgo francês Jean Racine (1674) e transformada em ópera pelo compositor alemão Christoph Willibald Gluck (1774), além das artes plásticas, onde podem ser encontradas, além das diversas pinturas de vasos e esculturas do próprio período da Antiguidade Clássica, telas de Peter Paul Rubens, David Teniers, o Jovem, Jean-Auguste Dominique Ingres, Eugène Delacroix e muitos outros, que retratam as suas múltiplas façanhas. Nome. O nome de Aquiles pode ser interpretado como uma combinação de ἄχος ("achos"), "luto" e λαός ("laos"), "povo", "tribo", "nação", etc. Em outras palavras, Aquiles seria uma personificação do luto das pessoas, luto sendo um dos temas que é levantado por muitas vezes na "Ilíada" (muitas delas pelo próprio Aquiles). O papel de Aquiles como herói do luto forma, assim, um contraste irônico com a visão convencional, que o apresenta como um herói de "kleos" ("glória", especialmente na guerra). "Laos" foi interpretado como "um corpo de soldados"; neste sentido, o nome teria um sentido duplo, no poema; quando o herói atua da maneira correta, seus homens trazem luto ao inimigo; da maneira errada, são os seus homens que sentem o luto e a dor da guerra. O poema fala, em parte, sobre a má direção da ira por parte dos líderes. O nome "Achilleus" passou a ser um nome comum e presente entre os gregos desde o início do século VII a.C. Foi transformado para a forma feminina Ἀχιλλεία ("Achilleía"), atestada pela primeira vez na Ática, no século IV a.C., e "Achillia", encontrada como nome de uma gladiadora lutando contra "Amazonia" ("amazonas"). Os jogos gladiatórios romanos frequentemente reverenciavam a mitologia clássica, e esta parece ser uma referência à luta de Aquiles contra a rainha amazona Pentesileia, com um toque curioso de mostrar o herói na forma de uma mulher. Nascimento. Aquiles era o filho da nereida Tétis e de Peleu, rei dos mirmidões. Tétis era uma das várias filhas de Nereu e Doris e Peleu era filho de Éaco e Endeis. Zeus e Posídon haviam sido rivais pela mão de Tétis até que Prometeu, o responsável por trazer o fogo aos humanos, alertou Zeus a respeito de uma profecia que dizia que Tétis daria luz a um filho ainda maior que seu pai. Por este motivo, os dois deuses desistiram de cortejá-la, e fizeram-na se casar com Peleu. Como em boa parte da mitologia grega, existe uma versão da lenda que oferece uma versão alternativa destes eventos: na "Argonáutica" Hera alude à casta resistência de Tétis aos avanços de Zeus, e que Tétis teria sido tão leal aos laços matrimoniais de Hera que o rejeitou de maneira fria. O calcanhar de Aquiles. De acordo com um fragmento de um "Achilleis" — a "Aquilíada", escrita por Estácio no século I, ou seja, quase mil anos depois da Ilíada - quando Aquiles nasceu, Tétis teria tentado fazê-lo imortal, mergulhando-o no rio Estige; deixou-o, no entanto, vulnerável na parte do corpo pelo qual ela o segurava, seu calcanhar (ver calcanhar de Aquiles, tendão de Aquiles). Não está claro, no entanto, se esta versão do mito era conhecida anteriormente. É certo, porém, que Homero, nos séculos IX-VIII a.C., a desconhecia, e também Ovídio, no século I a.C. Em outra versão, Tétis ungiu o filho com ambrosia e o colocou sobre o fogo, para que suas partes mortais fossem queimadas; foi interrompida por Peleu, no entanto, e acabou abandonando pai e filho, furiosa. Nenhuma das fontes anteriores a Estácio, no entanto, faz qualquer referência a esta invulnerabilidade física do personagem; ao contrário, na própria "Ilíada" Homero descreve Aquiles sendo ferido: no livro 21 Asteropeu, o herói Peônio, filho de Pélago, desafia Aquiles nas margens do rio Escamandro; arremessa duas lanças ao mesmo tempo, uma das quais atinge o calcanhar de Aquiles, "tirando um jorro de sangue". Também nos fragmentos de poemas do Ciclo Épico, onde podem ser encontradas as descrições da morte do herói, "Cípria" (de autoria desconhecida), "Etiópida" (de Arctino), a "Pequena Ilíada" (de Lesco de Mitilene), entre outras, não existe qualquer indicação ou referência à sua invulnerabilidade ou ao seu célebre ponto fraco no calcanhar; nas pinturas em vasos feitas mais tarde, que representam a morte de Aquiles, a flecha (ou, em muitas casos, as flechas) o atingem no corpo. Educação. Peleu confiou Aquiles a Quíron, o centauro, no monte Pélion, para lá ser criado. O centauro encarregou-se da educação do jovem, alimentou-o com mel de abelhas, medula de ursos e de javalis e vísceras de leões. Ao mesmo tempo, iniciou-o na vida rude, em contato com a natureza; exercitou-o na caça, no adestramento dos cavalos, na medicina, na música e, sobretudo, obrigou-o a praticar a virtude. Aquiles tornou-se um adolescente muito belo, loiro, de olhos vivos, intrépido, simultaneamente capaz da maior ternura e da maior violência. Peleu deu ainda ao seu filho um segundo preceptor, Fénix, um homem de grande sabedoria, que instruiu o príncipe nas artes da oratória e da guerra. Juntamente com Aquiles, foi educado Pátroclo, seu amigo, filho do rei da Lócrida, Menécio. Aquiles na corte do rei Licomedes. O adivinho Calcas havia declarado, quando Aquiles tinha nove anos de idade, que Troia só poderia ser tomada com a ajuda de Aquiles. Tétis tinha o pressentimento de que Aquiles morreria na guerra. Apavorada, Tétis tratou de disfarçar o seu filho de mulher e o enviou para a corte do rei Licomedes, na ilha de Esquiro, para que ele fosse educado no gineceu, junto às filhas virgens do rei, disfarçado com o nome de "Pirra" ("loira" ou "ruiva"). Entretanto, os gregos enviaram Odisseu como embaixador à corte de Peleu, a fim de que ele trouxesse o indispensável Aquiles, mas como este não foi encontrado, recorreram a Calcas, que lhes revelou o embuste. Odisseu se disfarçou, então, de mercador, e dirigiu-se ao palácio de Licomedes, conseguindo entrar no gineceu. Ele expôs, perante os olhos maravilhados das princesas, os mais ricos adornos; entre os tecidos e as joias, no entanto, estavam escondidos um escudo e uma lança. Odisseu fez soar a trombeta da guerra, quando a pretensa Pirra correu para se armar, se revelando. Aquiles então concorda em participar da guerra. Entretanto, uma das filhas de Licomedes, Deidamia, que já há muito tempo conhecia a verdadeira identidade de Aquiles, apresentou-se grávida, embora o nascimento do seu filho só aconteça após a partida do herói. Este recebeu o nome de Neoptólemo, e a alcunha de "Pirro" (pelo nome de seu pai). Entretanto, alguns versos da Ilíada (XIX, 315-337) indicam que Aquiles já o conhecia antes de sua partida, embora ainda fosse uma criança. A própria cronologia sugere isso, pois o filho de Aquiles vai participar da guerra, dez anos depois. Odisseu conduziu então Aquiles para junto de seus pais. Tétis, assustada com o insucesso do seu estratagema, fez insistentes recomendações a seu filho: a sua vida seria tanto mais longa quanto mais obscura ele a mantivesse. Mas Aquiles recusou os conselhos de sua mãe. Nada lhe importava mais do que o brilho da glória e, por mais que os oráculos previssem a sua morte em Troia - como consequência de ter matado um filho de Apolo - ele não descansou enquanto seu pai não lhe concedeu um exército e uma frota. Peleu dotou-o então com cinquenta navios e confiou-lhe as armas que os deuses lhe tinham oferecido no dia do seu casamento. Aquiles partiu, levando consigo o seu fiel preceptor Fénix, assim como também, o seu fiel e inseparável amigo Pátroclo. Aquiles na Guerra de Troia. Aquiles é mencionado já nos dois primeiros versos da "Ilíada": Aquiles é o único mortal a experimentar a ira devoradora; se sua raiva pode, por vezes, hesitar, noutros momentos ela não pode ser resfriada. A humanização de Aquiles através dos eventos da guerra é um importante tema da narrativa da obra. Télefo. Assim que os gregos partem para a Guerra de Troia, eles fazem uma parada acidental na Mísia, na Ásia Menor, governada então pelo rei Télefo. Na batalha que se seguiu Aquiles provocou no próprio Télefo uma ferida que não cicatrizava jamais; Télefo consultou um oráculo, que afirmou que "aquele que feriu deverá curar". Guiado pelo oráculo, foi levado a Argos, onde Aquiles o curou, e acabou por se tornar seu guia na viagem a Troia. De acordo com relatos sobre a peça perdida de Eurípides sobre Télefo, ele teria ido a Áulide fingindo ser um mendigo, e pedido a Aquiles que curasse sua ferida; este recusou, afirmando não ter conhecimentos de medicina. Ainda noutra versão, Télefo teria sequestrado Orestes e pedido um resgate para libertá-lo, que seria a ajuda de Aquiles para curar a ferida. Odisseu teria argumentado que a lança de Aquiles causou a ferida e, portanto, ela deveria poder curá-la. Pedaços da lança foram então raspados sobre a ferida, e Télefo foi curado. Élida e Tenedo. Regressados ao porto de Élida - oito anos mais tarde - para se reagruparem após esta expedição fracassada, os gregos foram imobilizados pela força dos ventos. Agamemnon, o chefe dos exércitos aqueus, tendo sabido através do oráculo que os ventos não soprariam a seu favor a não ser que sacrificasse a sua filha Ifigénia, imaginou que a melhor maneira de a atrair, sem suspeitas, seria propondo-lhe casamento com Aquiles. Quando o herói teve conhecimento do embuste em que fora envolvido sem saber, censurou violentamente o "rei dos reis": e esta será a primeira querela com Agamemnon. Após o cumprimento do sacrifício de Ifigénia, os deuses permitiram aos ventos que soprassem, e assim a frota grega pôde navegar, fazendo escala na ilha de Tenedo, ao largo de Troia. Não se sabe ao certo se o rei da ilha, Tenes, teria simplesmente se oposto ao desembarque dos gregos, ou antes tentado proteger a sua irmã das intenções de Aquiles; qualquer que seja a resposta, a verdade é que ele acabou sendo morto pelo herói. Como Tenes era, no entanto, filho de Apolo, seu destino foi traçado ali - mesmo que Aquiles lhe tenha prestado um serviço fúnebre cheio de pompa. Cicno de Colonas. De acordo com a "Cípria", com o resto do Ciclo Épico e as tradições narradas por Plutarco e pelo acadêmico bizantino João Tzetzes, quando os navios gregos chegaram a Troia, Aquiles teria lutado contra Cicno de Colonas, um filho de Posídon, e o matado. Troilo. De acordo com a "Cípria" (a parte do Ciclo Épico que narra os eventos da Guerra de Troia antes da "ira de Aquiles"), quando os aqueus desejaram retornar para suas casas, foram impedidos por Aquiles, que posteriormente atacou o gado de Eneias, saqueou as cidades vizinhas e matou Troilo. De acordo com Dares, o Frígio, em seu "Relato da Destruição de Troia", o sumário em latim através do qual a história de Aquiles foi transmitida à Europa medieval, Troilo era um jovem príncipe troiano, o mais novo dos cinco filhos legítimos de Príamo (ou, por vezes, de Apolo) e de Hécuba. Apesar de sua pouca idade, foi um dos principais líderes guerreiros troianos. Profecias ligavam o destino de Troilo ao de Troia, e por isso ele sofreu uma emboscada, numa tentativa de aprisioná-lo. Aquiles, no entanto, fascinado com a beleza tanto de Troilo como de sua irmã Polixena, e, arrebatado pelo desejo, dirigiu suas atenções sexuais ao jovem - que, ao recusar-se a ceder aos avanços de Aquiles, viu-se decapitado sobre um altar de Apolo. Versões posteriores da história sugeriram que Troilo teria sido morto acidentalmente por Aquiles, num abraço caloroso entre amantes; nesta versão do mito, a morte de Aquiles teria vindo como uma retribuição por este sacrilégio. Os escritores antigos retrataram Troilo como a epítome de uma criança morta, pranteada por seus pais. Nas palavras do primeiro Mitógrafo Vaticano, se Troilo tivesse chegado à idade adulta, Troia teria sido invencível. Na "Ilíada". A "Ilíada" de Homero é a narrativa mais famosa dos feitos de Aquiles na Guerra de Troia. O épico homérico cobre apenas algumas poucas semanas do conflito, e não descreve a morte de Aquiles. Ela se inicia com o herói se retirando da batalha, após se ver desonrado por Agamemnon, comandante das forças aqueias. Agamemnon havia capturado uma mulher chamada Criseida como sua escrava; seu pai, Crises, sacerdote do deus Apolo, implorou a Agamemnon que a devolvesse a ele, em vão. Como punição, Apolo fez uma praga recair sobre os gregos. O profeta Calcas conseguiu determinar com sucesso a origem dos problemas, porém não ousou se manifestar até que Aquiles jurasse protegê-lo. Agamemnon consentiu então em retornar Criseida a seu pai, porém ordenou que o prêmio obtido por Aquiles durante a batalha, a escrava Briseida, lhe fosse trazida como substituta de Criseida. Irado com a desonra (e, como ele viria a dizer posteriormente, porque amava Briseida) e incitado por Tétis, sua mãe, Aquiles recusou-se a lutar ou liderar suas tropas junto com as forças gregas. À medida que a batalha começou a tomar um rumo desfavorável aos gregos, Nestor declarou que os troianos estavam vencendo porque Agamemnon havia enfurecido a Aquiles, e instigou o líder aqueu a fazer as pazes com o guerreiro. Agamemnon concordou e enviou Odisseu e mais outros dois líderes até Aquiles, oferecendo o retorno de Briseida e outros presentes. Aquiles recusou, e ainda instou os gregos a velejarem de volta para casa, como ele planejava fazer. Eventualmente, no entanto, ansioso por obter glória, a despeito de sua ausência no campo de batalha, Aquiles orou para sua mãe, pedindo a ela que intercedesse a seu favor junto a Zeus, favorecendo os troianos - que, liderados por Heitor, acabaram efetivamente por empurrar o exército grego rumo aos seus acampamentos na praia, e tomaram de assalto seus navios. Com as tropas gregas à beira da completa destruição, Pátroclo liderou os mirmidões na batalha, passando-se por Aquiles após vestir sua armadura e usar seu carro de batalha. Pátroclo obteve sucesso ao expulsar os troianos das praias ocupadas pelos gregos, porém acabou sendo morto por Heitor antes que pudesse organizar o contra-ataque à cidade de Troia. A vingança de Aquiles. Após receber de Antíloco, filho de Nestor, as notícias da morte de Pátroclo, Aquiles sofreu muito com a morte de seu amigo, e realizou diversos jogos fúnebres em sua honra. Sua mãe, Tétis, também tenta confortar um Aquiles atormentado, e convence Hefesto a fazer-lhe uma nova armadura, no lugar daquela que Pátroclo vestia, e que fora levada por Heitor. A nova armadura contava com o Escudo de Aquiles, descrito com riqueza de detalhes pelo poeta. Furioso com a morte de Pátroclo, Aquiles reconsidera sua decisão de se afastar do combate, e voltou à batalha, matando diversos homens em sua fúria - sempre à procura de Heitor. O herói chegou mesmo a lutar contra o deus-rio Escamandro, que havia se enfurecido por Aquiles ter sufocado suas águas com todos os homens que ele havia matado. O deus estava prestes a afogar Aquiles quando foi interrompido por Hera e Hefesto; e o próprio Zeus, ao perceber a dimensão da fúria de Aquiles, enviou os deuses para contê-lo, para que ele não saqueasse sozinho a própria Troia - indicando que a fúria de Aquiles, se não fosse obstruída, poderia desafiar o próprio destino, já que Troia não deveria ser destruída ainda. Finalmente, Aquiles encontrou sua presa; após perseguir Heitor em torno das muralhas de Troia por três vezes, até que a deusa Atena - que havia assumido a forma do irmão favorito de Heitor, Deífobo - convenceu Heitor a parar de fugir e enfrentar Aquiles, cara a cara. Quando Heitor percebeu que havia sido enganado, soube que sua morte era inevitável e aceitou seu destino; desejoso de morrer lutando, atacou Aquiles com sua única arma, sua espada. Aquiles obteve finalmente sua vingança, matando Heitor com um único golpe no pescoço. Amarrou então o corpo do derrotado ao seu carro, e o arrastou pelo campo de batalha por nove dias. Com a ajuda do deus Hermes, o pai de Heitor, Príamo, foi à tenda de Aquiles durante uma noite e implorou-lhe que permitisse realizar os ritos fúnebres que seu filho merecia. A última passagem da "Ilíada" é o funeral de Heitor, após o qual o destino de Troia era apenas uma questão de tempo. Pentesileia. Após esta trégua temporária com Príamo, Aquiles derrotou em combate e matou a rainha amazona, Pentesileia, mais tarde lamentando sua morte. Inicialmente distraído por sua beleza, ele não lutou de maneira tão intensa quanto de costume; ao perceber, no entanto, que sua distração estava colocando em risco sua vida, devido às habilidades de combate da rainha guerreira, concentrou-se novamente e conseguiu matá-la. Enquanto Aquiles lamentava a morte de tão rara beleza, um notório tumultuador grego, chamado Térsites, começou a rir e caçoar dele, sugerindo que o herói estaria apaixonado pela falecida; perturbado com tamanha falta de sensibilidade e de respeito, Aquiles socou Térsites no rosto com fúria, matando-o imediatamente. Embora Homero tenha retratado Térsites como um indivíduo claramente de baixo nível social, as tradições posteriores o descreveram como sendo um parente de Diomedes - o que teria levado Aquiles a viajar até a ilha de Lesbos, em busca de purificação. Segundo o diário de Díctis de Creta, a história foi diferente. Pentesileia chegou durante os funerais de Heitor, trazendo um exército de amazonas e aliados, e atacou os gregos, sem a ajuda dos troianos. Aquiles feriu Pentesileia, puxou-a pelo cabelo, e derrubou-a do cavalo, o que causou a fuga do seu exército. Pentesileia ainda estava viva, e os gregos discutiram o que fazer com ela: jogá-la no rio ou dá-la para os cachorros dilacerarem, mas Aquiles queria deixá-la morrer naturalmente (pelas feridas) e enterrá-la. Diomedes acabou tendo sua ideia aprovada por unanimidade, e a amazona foi jogada no rio Escamandro para morrer afogada - um ato que Díctis considerou cruel e bárbaro. Mêmnon, e a queda de Aquiles. Com a morte de Pátroclo, o companheiro mais próximo de Aquiles passou a ser o filho de Nestor, Antíloco. Quando Mêmnon, rei da Etiópia o matou, Aquiles novamente foi compelido a voltar ao campo de batalha, em busca de vingança. O combate entre Aquiles e Mêmnon, motivado pela morte de Antíloco, apresentou ecos do ocorrido entre Aquiles e Heitor, pela morte de Pátroclo - com a exceção de que Mêmnon, ao contrário de Heitor, também era filho de uma deusa. Diversos estudiosos homéricos argumentaram que o episódio teria inspirado diversos detalhes na descrição da morte de Pátroclo, na "Ilíada", e a reação de Aquiles a ele. O episódio fazia parte então do Ciclo Épico, em especial da "Aethopis" ("Etiópica"), composta após a Ilíada, provavelmente no século VII a.C. A obra está perdida hoje em dia, e sobrevive apenas em fragmentos esparsos citados por autores posteriores. Como havia sido previsto por Heitor, em seu último suspiro, Aquiles foi morto posteriormente por Páris, com uma flecha envenenada (no calcanhar, de acordo com a versão de Estácio). Em certas versões do mito, o próprio deus Apolo teria guiado a seta de Páris. Ambas as versões negam posteriormente a Páris qualquer tipo de valor pelo feito, devido à concepção comum de que ele era um covarde, e não o homem que seu irmão Heitor era - e, consequentemente, Aquiles teria permanecido sem ser derrotado no campo de batalha. Seus ossos foram misturados aos de Pátroclo, e jogos fúnebres foram realizados em sua homenagem. Aquiles também apareceu em outro épico perdido sobre a Guerra de Troia, de autoria de Arctino de Mileto, como tendo vivido ainda após a sua morte, na ilha de Leucas, na foz do rio Danúbio. Outra versão de sua morte narra que ele teria se apaixonado profundamente por uma das princesas de Troia, Polixena, e teria pedido sua mão a Príamo - que consentiu com a união, pressentindo que ela simbolizaria o fim da guerra e uma aliança com o maior guerreiro do mundo. Enquanto o rei organizava os preparativos para o matrimônio, no entanto, Páris - que teria de abandonar Helena se Aquiles se casasse com sua irmã, escondeu-se em arbustos próximos a Aquiles e o matou com uma flecha divina. Páris teria então sido morto por Filoctetes, com o arco e as flechas de Héracles. O destino da armadura de Aquiles. A armadura de Aquiles foi alvo de uma disputa entre Odisseu e Ájax Telamônio; ambos competiram por ela através de discursos sobre quem seria o mais corajoso depois de Aquiles, feitos para os prisioneiros troianos - que, depois de debater o assunto, chegaram a um consenso e deram a vitória a Odisseu. Ájax, furioso, o amaldiçoou - o que lhe trouxe a ira da deusa Atena, que o enlouqueceu temporariamente de tristeza e angústia, e o levou a assassinar ovelhas acreditando serem seus companheiros. Ao despertar de sua fúria e perceber o que havia feito, Ájax cometeu suicídio. Odisseu eventualmente acabou presenteando a armadura a Neoptólemo, filho de Aquiles. Uma relíquia que se alegava ser a lança com ponta de bronze de Aquiles foi preservada por séculos no templo de Atena, situado na acrópole de Fasélis ("Phaselis"), na Lícia, um porto situado no golfo Panfílio. A cidade foi visitada em por Alexandre, o Grande, que costumava se ver como um "novo Aquiles" e levava a "Ilíada" consigo; seus biógrafos, no entanto, não mencionam a lança, que teria sem dúvida despertado seu interesse. A relíquia, no entanto, seguramente estava em exibição durante a vida de Pausânias no século II. Aquiles e Pátroclo. A relação de Aquiles com Pátroclo é um dos aspectos principais de seu mito. Sua natureza exata vem sendo alvo de debates e disputas, desde a Antiguidade até os dias de hoje. Na "Ilíada" eles parecem ser retratados de maneira geral como modelos de uma relação de "philia" profunda e legal; por isso, analistas e estudiosos de todas as épocas já interpretaram a relação sob o ponto de vista de suas próprias culturas, o que gerou uma ampla gama de opiniões a respeito. Na Atenas do século V a.C., por exemplo, cerca de quatro séculos após Homero, a relação era comumente interpretada como pederástica. Já leitores contemporâneos se dividem entre interpretar os dois heróis tanto como "camaradas de guerra"("hetaîros"), entre os quais não existe qualquer tipo de relacionamento sexual, quanto como um casal homossexual. O culto a Aquiles na Antiguidade. Havia um culto heroico arcaico a Aquiles na Ilha Branca (Leuca), no mar Negro, na atual costa da Romênia e Ucrânia, onde um templo e um oráculo dedicado ao herói sobreviveu até o período romano. No épico perdido "Aithiopis", uma espécie de continuação da "Ilíada" atribuída a Arctino de Mileto, a mãe de Aquiles, Tétis, retorna para prestar-lhe homenagens e remover suas cinzas da pira funerária, e leva-as a Leuca, na foz do Danúbio. Lá, os aqueus ergueram um túmulo para ele, e celebraram jogos fúnebres. A "História Natural" de Plínio, o Velho, menciona que o túmulo já não mais era visível ("Insula Akchillis tumulo eius viri clara") na ilha consagrada a ele, localizada a cinquenta milhas romanas de Peuce, no delta do Danúbio. Pausânias foi informado que a ilha era coberta por florestas e repleta de animais, alguns selvagens, outros dóceis, e que na ilha também havia um templo de Aquiles, e sua estátua. Ruínas de um templo em forma de quadrado, com 30 metros em cada lado - possivelmente aquele dedicado a Aquiles - foram descobertas por um capitão Kritzikly, em 1823, porém não há atualmente qualquer tipo de trabalho arqueológico sendo feito na ilha. Segundo Pompônio Mela, Aquiles estaria enterrado na ilha chamada de Aquileia ("Achillea"), entre o Borístenes e o Istro. Já para o geógrafo grego Dionísio Periegeta, da Bitínia, que viveu no tempo do imperador romano Domiciano, a ilha onde Aquiles está enterrado seria chamado de Leuca (em grego: "Leuke", "branca") "porque os animais selvagens que lá vivem são brancos", e que lá residiriam as almas de Aquiles e de outros heróis, que vagavam sobre os vales desabitados do local; "era assim que Jove recompensava os homens que haviam se distinguido por suas virtudes, porque através da virtude alcançaram a honra eterna." O "Périplo de Ponto Euxino" dá os seguintes detalhes: O culto heroico a Aquiles na ilha de Leuca foi muito difundido da Antiguidade, não somente nas vias marítimas do mar Pôntico, mas também em diversas cidades marítimas cujos interesses econômicos estavam ligados às riquezas do mar Negro. Aquiles da ilha de Leuca era venerado como "Pontarca" ("Pontarches"), o soberano do Ponto, protetor dos navegantes e da navegação. Os marinheiros desviavam seus caminhos para oferecer-lhe sacrifícios. Diversas cidades portuárias comerciais dos mares dominados pelos gregos foram dedicadas a Aquiles de Leuca: "Achilleion", na Messênia,"Achilleios", na Lacônia, ou até mesmo, segundo alguns estudiosos, Aquileia e, no braço norte do delta do Danúbio, Quília ("Achileii"). Leuca tinha a reputação de ser um lugar de cura; Pausânias relata que a pítia délfica teria enviado um nobre de Crotona para se tratar de um ferimento no peito. Amiano Marcelino atribui a cura às águas ("aquae") da ilha. O culto a Aquiles nos tempos modernos. Na região de (Γαστούρι), a sul da cidade de Corfu, na Grécia, a imperatriz da Áustria, Isabel da Baviera, mais conhecida como "Sissi", construiu em 1890 um palácio de verão, com Aquiles como seu tema central, um monumento ao romantismo platônico. O palácio, naturalmente, recebeu um nome em homenagem ao herói, "Achilleion" (Αχίλλειον). A estrutura elegante está repleta de pinturas e estátuas de Aquiles, tanto no salão principal quanto nos jardins luxuosos, que recriam cenas trágicas e heroicas da Guerra de Troia. Outros mitos sobre Aquiles. No livro 11 da "Odisseia" o mesmo Odisseu viaja ao mundo inferior e lá conversa com as sombras, as almas dos mortos. Uma destas é Aquiles, que, quando saudado como sendo "abençoado na vida, abençoado na morte", responde que preferia ser um escravo sob o pior dos senhores do que um rei de todos os mortos. Aquiles então pergunta a Odisseu sobre os feitos de seu filho na Guerra de Troia, e quando aquele lhe descreve os atos heroicos de Neoptólemo, o herói se enche de satisfação - o que dá ao leitor um intrigante senso de ambiguidade na maneira com que Aquiles vê a vida heroica. Aquiles foi venerado como deus marinho em muitas das colônias gregas do mar Negro, onde se localizada a semi-mítica "Ilha Branca" (Leuca) onde ele teria habitado, após sua morte, juntamente com diversos outros heróis. Os reis do Epiro alegavam descendência de Aquiles através de seu filho, Neoptólemo. Alexandre, o Grande, filho da princesa epirota Olímpia, alegava por este mesmo motivo esta descendência - e em diversas maneiras tentou ser como o seu suposto ancestral, tendo até mesmo visitado seu túmulo ao passar por Troia. Aquiles lutou e matou em combate a amazona Helena. Algumas versões de sua lenda dizem que teria se casado com Medeia, e que após a morte dos dois ambos teriam sido reunidos nos Campos Elísios do Hades - como Hera havia prometido a Tétis, na "Argonáutica" de Apolônio. Aquiles na tragédia grega. O dramaturgo trágico grego Ésquilo é autor de uma trilogia de peças sobre Aquiles, que receberam o nome de "Achilleis" por estudiosos modernos. Estas tragédias relatam os feitos de Aquiles durante a Guerra de Troia, incluindo a sua vitória sobre Heitor, e sua morte, quando uma flecha disparada por Páris e guiada por Apolo o atingiu no calcanhar. Alguns fragmentos desta obra foram juntados com outros fragmentos de obras do autor, formando uma peça moderna sobre o qual se trabalhou; a primeira parte da trilogia, "Os Mirmidões", foca-se na relação entre Aquiles e o coro, que representa o exército aqueu, e tenta convencer o herói a pôr um fim à sua disputa com Agamemnon; apenas poucas linhas sobrevivem do trecho hoje em dia. Outro dramaturgo autor de tragédias, Sófocles, também escreveu uma peça com Aquiles como personagem principal, "Amantes de Aquiles", dos quais apenas alguns fragmentos sobrevivem. A cólera de Aquiles. No decurso do décimo ano de guerra, Aquiles e Agamemnon envolveram-se em grande disputa. Tudo isto porque, como Agamemnon se vira obrigado a libertar a filha do sacerdote, Criseida, exigiu como compensação a serva de Aquiles, Briseis. Injuriado e furioso, Aquiles decidiu abandonar a guerra e retirou-se para o seu acampamento, pondo assim em causa a possível vitória dos gregos. A história da cólera de Aquiles, em Troia, é o tema da Ilíada, a obra mais lida de toda a Antiguidade, que é responsável pela enorme notoriedade do herói grego. A situação dos gregos não tardou a tornar-se aflitiva. Pátroclo, sem a autorização de Aquiles furta-lhe a armadura e vai para o campo de batalha onde acabou por encontrar a morte às mãos de Heitor, marido de Andrómaca, o mais valente dos filhos do rei Príamo (verdadeiro herói da Ilíada, subtendido por Homero). Enlouquecido de dor pela perda de seu amigo (e possível amante), Aquiles saltou sem armas para o campo de batalha produzindo um bramido demente que o exército troiano achou se tratar de um louco insano. A sua contenda com Agamemnon fora esquecida, pois agora Aquiles só pensava em vingar-se da morte de Pátroclo. E é Heitor quem Aquiles persegue com seu ódio e é ele quem pretende sacrificar em homenagem a Pátroclo. Certo dia, ao acaso da guerra, Aquiles encontra-se com Heitor no campo de batalha derrotando-o num combate extenso e singular, matando-o somente após uma topada numa pedra a luz de um Sol escaldante (topada a qual desorientou todos os sentidos do guerreiro troiano). Depois, desrespeitando a ética dos rituais fúnebres dos vencidos em combate, prendeu o cadáver ao seu carro e deu a vergonhosa volta às muralhas de Troia, onde só largou o corpo ensanguentado e desfeito do honrado Heitor quando o já velho rei Príamo lhe veio suplicar indulgência. A tradição pós-homérica acrescentou, ainda, outros feitos atribuídos a Aquiles. Entre estas, pode-se destacar a sua luta contra a rainha das amazonas, Pentesileia, que veio com as suas tropas em socorro dos troianos e perdeu a vida às suas mãos. No último momento, quando Aquiles viu o rosto da sua vítima inflamado por uma súbita e impossível paixão, chorou sobre o seu corpo. Relata-se, igualmente, o seu encontro com Mémnon, filho da Aurora, que terminou com a morte do troiano, e foi uma fonte inesgotável de lágrimas para sua mãe. A morte de Aquiles. Apesar da valentia e dos feitos de Aquiles, a fatalidade não podia deixar de acontecer. A morte do grande herói da Antiguidade é apresentada em várias versões, porém a mais aceita relata que ele morreu ferido no calcanhar por uma flecha certeira, poderosa e assassina, atirada pelo príncipe Páris e guiada por Apolo. Páris, nesse ato, consegue vingar-se da morte de seu irmão Heitor e simultaneamente vingar a morte do filho do deus Apolo, Tenes. Aquiles, após a morte, recebeu a justa recompensa por toda uma vida de feitos heroicos e de combates. Zeus, a pedido de Tétis, conduziu-o à ilha dos bem-aventurados, onde ele casou com uma heroína (cita-se Medeia, Ifigénia, Polixena, e mesmo Helena: da sua união com esta, teria nascido um filho alado, Euforião, que é identificado com a brisa da manhã). Genealogia. Ascendência. A ascendência de Aquiles. Descendencia. Aquiles, segundo os "Cantos Cípricos," tem como filho Neoptólemo
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Anarcocapitalismo
Anarcocapitalismo Anarcocapitalismo (também conhecido como anarquismo de livre mercado ou anarquismo de propriedade privada) é uma filosofia política libertária que defende o direito a soberania do indivíduo através da propriedade privada e do livre mercado. Os anarcocapitalistas buscam abolir os estados centralizados em favor de sociedades sem estado com sistemas de propriedade privada aplicados por agências privadas, pelo princípio da não agressão, por livres mercados e sob a interpretação libertária capitalista de autopropriedade. Os anarcocapitalistas sustentam que a sociedade tende a se autorregular e civilizar contratualmente através da participação no livre mercado, que eles descrevem como uma sociedade voluntária envolvendo a troca voluntária de serviços e bens. Em uma sociedade anarcocapitalista, o sistema de propriedade privada ainda existiria e seria aplicado por agências privadas de defesa e/ou seguradoras selecionadas por clientes que operariam competitivamente em um mercado e cumpririam os papéis dos tribunais e da polícia. O dinheiro e as moedas correntes seriam fornecidos de forma privada e competitiva num mercado aberto, através de um sistema bancário livre. Desta forma, as atividades pessoais e econômicas do anarcocapitalismo seriam reguladas através de gestão e direito privado. O anarcocapitalismo é geralmente visto como parte do movimento social da Nova Direita. A sociedade anarcocapitalista operaria sob "um código legal que seja aceito em termos gerais, e que os tribunais se comprometeriam a respeitar. O código legal justamente insistiria no princípio libertário de que nenhuma agressão deve ser cometida contra pessoa ou propriedade, definiria os direitos de propriedade de acordo com o princípio libertário, e estabeleceria as regras de evidência (tais como código legal mutuamente acordado que seria geralmente aceito e que os tribunais se comprometeriam a seguir". Este código legal reconheceria contratos entre indivíduos, propriedade privada, autopropriedade e lei sobre danos de acordo com o princípio da não agressão. Rothbard vê o poder do Estado como injustificado, argumentando que restringe os direitos individuais e a prosperidade, agregando problemas sociais e econômicos. A primeira pessoa a usar o termo "anarcocapitalismo" foi Murray Rothbard, na década de 1940. Rothbard, uma figura de destaque no movimento libertário americano do século XX, sintetizou elementos da Escola Austríaca, liberalismo clássico, de anarquistas individualistas e mutualistas americanos do século XIX, como Lysander Spooner e Benjamin Tucker, ao mesmo tempo enquanto rejeitando a teoria do valor-trabalho. O anarcocapitalismo distingue-se do minarquismo, que defende um estado mínimo a qual é limitado unicamente a impor a propriedade privada e a proteger os indivíduos da agressão. O anarcocapitalismo também se distingue e não possui relação com o anarquismo histórico, movimento esse anticapitalista que se opõe à coerção e hierarquia e é anticapitalista. Apesar de seu nome, o anarcocapitalismo está fora da tradição do anarquismo e está mais intimamente associado ao capitalismo, ao libertarianismo de direita e ao liberalismo clássico. As escolas de pensamento anarquistas tradicionais se opõem e rejeitam o capitalismo, e consideram o "anarco + capitalismo" uma contradição em termos, embora alguns anarcocapitalistas tenham argumentado que o anarco-capitalismo é uma forma de anarquismo. Desta forma, o "libertarianismo" Anarcocapitalista proposto por Rothbard é oposto ao anarquismo. Ressalta-se, então, que o termo libertário, originalmente fora utilizado para designar os reais praticantes do anarquismo, sendo deturpado "a posteriori" como forma de designação dos praticantes e adeptos dos ideais do anarcocapitalismo. Na ética política anarcocapitalista, o importante é como a propriedade é adquirida, mantida e transferida; o que indica que a única maneira justa de adquirir uma propriedade é através da apropriação original baseada no trabalho, troca voluntária (por exemplo, comércio e doação). Embora o objetivo do anarcocapitalismo seja maximizar a liberdade individual e a prosperidade, essa ideia reconhece os acordos solidários e comunais como parte da mesma ética voluntária. A partir dessas premissas, os anarcocapitalistas derivam como consequência lógica a rejeição total do Estado — como uma instituição que exerce o monopólio do poder sobre os habitantes de determinada região (em geral: país/nação/reino), onde seus representantes de governo afirmam ser legítimo — e a adoção da livre iniciativa, onde as agências privadas ofereceriam um mercado de serviços — empréstimos e segurança pública incluídos — para os indivíduos. Esta corrente política aparece durante a segunda metade do século XX dentro do libertarianismo. Utiliza-se da lei da utilidade marginal da revolução marginalista na economia e geralmente incorpora a abordagem da escola austríaca como método de análise das ciências sociais. Em alguns casos, também baseia seus argumentos econômicos e jurídicos em teorias como a análise econômica do direito ou na teoria da escolha pública. Segundo Hans-Hermann Hoppe, o anarcocapitalismo está sob o plano filosófico moral, onde o fundamento pode ser uma defesa jusnaturalista ou consequencialista da liberdade individual e da liberdade negativa, ou pode recorrer a outras premissas como exemplo da ética argumentativa ou do contratualismo. Filosofia. O Estado. Murray Rothbard, que é creditado com a cunhagem do termo "anarcocapitalismo", afirmou que a diferença entre o capitalismo de livre mercado e o capitalismo de estado é a diferença entre "troca pacífica e voluntária" e uma "parceria de conluio" entre negócios e governo que "usa a coerção para subverter o livre mercado". Rothbard argumentou que todos os serviços governamentais, incluindo defesa, são ineficientes porque carecem de um mecanismo de preços a qual age sobre o esquema de organização industrial baseado no mercado regulado pelas "decisões voluntárias dos consumidores que compram serviços que atendem às suas necessidades mais prioritárias" e por investidores que procuram as empresas mais eficientes para investirem. Além disso, as autoras Linda e Morris Tannehill acreditam que nenhum monopólio coercitivo da força pode surgir em um mercado verdadeiramente livre. É afirmado também que se o financiamento ao governo não fosse obrigado, o livre mercado acabaria que oferecendo serviços legitimamente eficazes, com eficiência e a preços mais baixos, mostrando inevitavelmente a ineficiência e os altos preços do governo, a qual o mesmo perderia todos os seus "clientes". Princípio de não agressão. O escritor Stanisław Wójtowicz diz que, embora os anarcocapitalistas sejam contra os estados centralizados, eles sustentam que todas as pessoas naturalmente compartilhariam e concordariam com uma teoria moral específica baseada no princípio da não agressão. Embora a formulação de Friedman do anarcocapitalismo seja robusta diante à presença de violência e de fato, suponha que algum grau de violência ocorrerá, o anarcocapitalismo formulado por Rothbard e outros mantém fortemente o axioma central libertário da não agressão, às vezes princípio de não agressão. Rothbard escreveu: Em geral, pode-se dizer que o axioma da não agressão é uma proibição contra o início de violência ou da ameaça de uso de violência contra pessoas (ou seja, violência direta, assalto, assassinato, etc.) ou contra a propriedade legítima (roubo, fraude, impostos). Agressão, portanto, é um sinônimo de invasão. A iniciação da violência também pode ser referida como coerção. A diferença entre anarcocapitalistas e outros libertários liberais é basicamente devido ao grau de compromisso com este axioma. Por exemplo, os liberais minarquistas, ou clássicos, preservariam o Estado (com sua agressão inerente) de forma limitada e com esferas de ação mínimas, cujas funções consistiriam apenas em defesa nacional, segurança pública, ordem interna, direito e justiça. Em contraste, os anarcocapitalistas rejeitam qualquer níveisl de intervenção estatal, definindo o Estado como um monopólio coercivo diante o uso ilegítimo da violência e, que esta é a única entidade na sociedade humana, excluindo criminosos reconhecidos, que obtém sua renda inteiramente da coerção, na forma de tributação, a qual Rothbard descreve como "apreensão compulsória dos bens dos habitantes. Alguns anarcocapitalistas, como Rothbard, aceitam o axioma da não-agressão com base na moral intrínseca ou na lei natural. É em termos do princípio da não agressão que Rothbard definiu sua interpretação do anarquismo, "um sistema que não fornece sanção legal para tal agressão ['contra pessoa e propriedade']"; e escreveu que "o que o anarquismo se propõe a fazer, então, é abolir o Estado, ou seja, abolir a instituição regularizada de coerção agressiva". Em uma entrevista publicada no jornal libertário americano "The New Banner", Rothbard afirmou que "o capitalismo é a expressão mais completa do anarquismo, e o anarquismo é a expressão mais completa do capitalismo". Sociedade contratual. A sociedade idealizada pelos anarcocapitalistas foi rotulada por eles como uma "sociedade contratual" que Rothbard descreveu como "uma sociedade baseada puramente na ação voluntária, totalmente livre de violência ou ameaças de violência" O sistema baseia os contratos entre indivíduos como a estrutura legal a qual seria aplicada tanto pela polícia privada e forças de segurança, bem como por regulações privadas. Livre empresa frente ao Estado. O anarquismo capitalista de Rothbard sustenta que empresas como o resultado de contratos individuais e, portanto, uma forma legítima e eficaz de organizar as pessoas com a liberdade de escolher um concorrente ou entrar na competitividade como uma forma universal de preservar e promover a qualidade dos serviços. Os anarcocapitalistas veem a livre iniciativa como a base de uma sociedade livre. Definir capitalismo de livre mercado como "a troca voluntária e pacífica" em contraste com o capitalismo de Estado, que ele chama de "violenta expropriação". "Capitalismo" no sentido de que anarcocapitalistas usam este termo, é uma interpretação "neolockeana" ou "anarcolockeana" da propriedade, para não ser confundido com o capitalismo de estado, monopólio, mercantilismo oligárquico (economias cartelizadas), capitalismo de compadrio ou com economias mistas contemporâneas, em que, de acordo com anarcocapitalistas, incentivos e "desincentivos" do mercado são distorcidos pela intervenção do Estado. Propriedade privada. Armas. O anarcocapitalismo opõe-se a toda coerção e, portanto, defende a livre posse de armas. Embora a propriedade privada permita aos seus legítimos proprietários decidirem se outros podem entrar ou não em suas propriedades portando armas. Lei e ordem. Na teoria anarquista libertária, a lei e a ordem pública de uma sociedade voluntária podem ser proporcionadas por um mercado competitivo de instituições privadas que oferecem segurança pública, justiça e outros serviços de defesa, "a alocação privada da força, sem uma controle central". A crença entre os anarquistas do mercado livre é que essa competição tende a produzir serviços jurídicos e de polícia mais baratos e de melhor qualidade, incluindo "uma alta arbitragem boa e imparcial de reivindicações de direitos em conflito". O anarquismo de mercado desenvolvido por Murray Rothbard teoriza uma sociedade onde os provedores de justiça competem por clientes (lei policêntrica, agência de defesa privada) e onde a lei é baseada em leis naturais ou leis negativas. David Friedman propõe o anarquismo de mercado onde, além da segurança proporcionada pelo mercado, a própria lei é produzida pelo mercado. Variantes do anarcocapitalismo. A adoção do anarquismo de mercado livre com propriedade privada e ausência de lei estatal foi desenvolvida pelo economista e historiador americano Murray Rothbard, que foi o primeiro a teorizar o anarcocapitalismo. "Um aluno e discípulo do economista austríaco Ludwig von Mises, Rothbard, combinou o "laissez-faire" de seu professor com a visão absolutista dos direitos humanos e a rejeição do Estado que ele adotou ao estudar anarquistas individualistas americanos do século XIX, como Lysander Spooner e Benjamin Tucker". Outros pensadores, como David Friedman, propõem o anarcocapitalismo através de argumentos utilitários, isto é, a noção de que a adoção do anarcocapitalismo produziria melhores resultados do que qualquer outra alternativa de ordem social e econômica. No anarcocapitalismo proposto por Friedman, "os sistemas jurídicos serão criados por [busca] de ganho no mercado livre", o que levaria a uma sociedade libertariana generalizada, senão absoluta. Rothbard baseia sua filosofia com base na lei natural absoluta, mas também fornece explicações econômicas de por que ele acha que o anarcocapitalismo é preferível do ponto de vista pragmático. Friedman argumenta que ele não é um teórico dos direitos absolutos, mas também "não é utilitário", embora ele considere que "os argumentos utilitários são muitas vezes o melhor meio de defender os pontos libertários". Hans-Hermann Hoppe usa a ética argumentativa para fundar o "anarquismo da propriedade privada" e está mais próximo da visão de Rothbard sobre a lei natural. Nem todos os defensores do anarquismo capitalista autodenominam-se anarcocapitalistas, por exemplo, Wendy McElroy prefere usar o termo "anarcoindividualismo". Os anarcocapitalistas têm visões variadas de como eliminar o Estado. Rothbard defendeu o uso de táticas não-imorais disponíveis para alcançar a liberdade. Os agoristas, seguidores da filosofia de Samuel Edward Konkin III propõem eliminar o Estado praticando resistência fiscal e o uso de estratégias ilegais de mercado negro chamadas contraeconomia até que as funções de segurança pública do estado possam ser substituídas por concorrentes de livre mercado. História e origens. Liberalismo clássico. O historiador e libertário Ralph Raico argumentou que o que os filósofos liberais "criaram foi uma forma de anarquismo individualista, ou, como seria chamado hoje, anarcocapitalismo ou anarquismo de mercado". Ele também disse que Gustave de Molinari estava propondo uma doutrina da produção privada de segurança, uma posição que foi posteriormente assumida por Murray Rothbard. Alguns anarcocapitalistas consideram Molinari o primeiro proponente do anarcocapitalismo. No prefácio da tradução inglesa da obra de Molinari "The Production of Security" (A produção de Segurança) de 1977, Murray Rothbard chamou-a como "a primeira apresentação em qualquer lugar da história humana do que agora é chamado de anarcocapitalismo", embora admitindo que "Molinari não usou a terminologia, e provavelmente teria recusado no nome". Hans-Hermann Hoppe disse que "o artigo de 1849 'A Produção da Segurança' é provavelmente a contribuição mais importante para a teoria moderna do anarcocapitalismo". De acordo com Hans-Hermann Hoppe, um dos precursores do anarcocapitalismo do século XIX foi o filósofo Herbert Spencer, o liberal clássico Auberon Herbert e o professor acadêmico Franz Oppenheimer. A literatura do anarcocapitalista baseia-se na teoria liberal clássica, particularmente na Escola Austríaca – Friedrich von Hayek e Ludwig von Mises – em vez de tradições anarquistas reconhecíveis. A filosofia laissez-faire, antigovernamental e corporativa de Ayn Rand – Objetivismo – às vezes é associada ao anarcocapitalismo". Outros estudiosos associam o anarcocapitalismo de maneira semelhante ao liberalismo clássico anti-Estado, ao liberalismo neoclássico, ao neoliberalismo radical e ao libertarianismo de direita. A primeira fonte para apoiar a teoria moderna da anarquia de mercado é o liberal clássico John Locke, que argumentou que, à medida que as pessoas misturam seu próprio trabalho com recursos não possuídos, eles tornam esses recursos sua propriedade. As pessoas podem adquirir novas propriedades trabalhando em recursos não apropriados ou negociando produtos criados. Essa ideia é usada por anarcocapitalistas para explicar por que a soberania da propriedade privada contradiz a soberania do estado. Molinari argumentou que o monopólio da segurança causa altos preços e baixa qualidade. A tradição liberal antiestadista na Europa e nos Estados Unidos continuou após Molinari nos primeiros escritos de Herbert Spencer, bem como em pensadores como Paul Émile de Puydt e Auberon Herbert. Anarquismo. Em ambas as suas formas social e individualista, o anarquismo é geralmente considerado um movimento anticapitalista e radical de esquerda ou extrema esquerda que promove teorias econômicas socialistas libertárias como o coletivismo, comunismo, individualismo, mutualismo e sindicalismo. Como o anarquismo é geralmente descrito ao lado do marxismo libertário como a ala libertária do movimento socialista e como tendo uma associação histórica com o anticapitalismo e o socialismo, os anarquistas acreditam que o capitalismo é incompatível com a igualdade social e econômica e, portanto, não reconhecem o anarcocapitalismo como uma escola de pensamento anarquista. Em particular, os anarquistas argumentam que as transações capitalistas não são voluntárias e que manter a estrutura de classes de uma sociedade capitalista requer coerção que é incompatível com uma sociedade anarquista. O uso de "libertário" também está em disputa. Embora tanto anarquistas quanto anarcocapitalistas a tenham usado, "libertário" era sinônimo de "anarquista" até meados do século XX, quando a teoria anarcocapitalista se desenvolveu. Embora a teoria anarcocapitalista implique a abolição do estado em favor de uma economia totalmente "laissez-faire", o anarcocapitalismo apenas compartilha a antipatia do anarquismo em relação ao estado e não a antipatia do anarquismo em relação à hierarquia como os teóricos esperam das relações de poder econômico anarcocapitalistas. Segue um paradigma diferente do anarquismo e tem uma abordagem e objetivos fundamentalmente diferentes. Apesar do "anarco-" em seu título, o anarco-capitalismo está mais intimamente associado ao capitalismo, ao libertarianismo de direita e ao liberalismo do que ao anarquismo. Os anarquistas tradicionais rejeitam a noção de capitalismo, hierarquias e propriedade privada. Anna Morgenstern aborda este tópico da perspectiva oposta, argumentando que os anarcocapitalistas não são realmente capitalistas porque "a concentração em massa do capital é impossível" sem o Estado. Para Jennings, "o anarquismo não representa a liberdade irrestrita do indivíduo (como os 'anarcocapitalistas' se contextualizam), mas, como já vimos, a extensão da individualidade e da comunidade". Da mesma forma, Barbara Goodwin, Professora Emérita de Política na Universidade de East Anglia, Norwich, argumenta que o “verdadeiro lugar do anarcocapitalismo é no grupo de libertários de direita”, não no anarquismo. Anarquismo individualista americano do século XIX. O teórico da lei natural, o advogado Lysander Spooner, é considerado entre os principais predecessores do anarcocapitalismo e mais próximo da ideia contemporânea por sua doutrina legal. Em 1845, Spooner escreveu um ensaio radical contra a escravidão, "Unconstitutionality of slavery". Estabelecido firmemente na tradição da lei natural enfrentou, desde o início de sua carreira profissional e ideológica, os monopólios protegidos pelo Estado, em 1870 escreveu "No Treason: The Constitution of No Authority", onde explica que toda legislação se opõe à lei natural e, portanto, é criminosa. Um exemplo de sua luta contra os monopólios era o "American Letter Mail Company", fundado em 1844, que competia com o monopólio estatal do Serviço Postal dos Estados Unidos em violação do "Estatuto de Envios Privados", que restringe aos Estados Unidos o transporte e a entrega de cartas por qualquer organização fora do serviço postal. Spooner considerou que os monopólios eram uma restrição imoral e, apesar de ter tido algum sucesso na redução dos preços, o governo dos Estados Unidos desafiou Spooner com medidas legais, obrigando-o a cessar as operações em 1851. Seu abolicionismo levou-o a criticar os motivos da guerra civil americana (1861-1865): ele entendeu que lutou pelo falso ideal da União, quando deveria ter lutado pelo ideal da escravidão. Spooner pensou que os proprietários de escravos não teriam se atrevido a se rebelar contra um governo que daria liberdade ao mundo inteiro, enquanto defendiam sua própria liberdade, os sulistas ganharam uma vantagem moral e psicológica que os sustentou durante a guerra. Assim, em 1864, ele publicou a "Carta a Charles Sumner", na qual ele acusou os políticos do norte de ter "sobre suas cabeças, ainda mais, se possível, do que a dos proprietários de escravos (que agiram de acordo com suas associações, interesses e princípios declarados como donos de escravos) repousa o sangue desta guerra horrível, desnecessária e, portanto, culpada." Benjamin Tucker (1854-1939) desenvolveu o anarquismo individualista numa série de artigos posteriormente compilados no livro "Instead of a Book " (1893). Seu princípio básico era que cada indivíduo desfrutava o máximo de liberdade compatível com uma liberdade igual para os outros, implicando, em particular, direitos ilimitados de adquirir e alienar bens no mercado. No antigo anarquismo da tradição americana, especialmente entre aqueles conhecidos como "anarquistas bostonianos", há uma afirmação do valor da propriedade privada; comprometidos com a ideia de um mercado livre, que para eles não havia sido totalmente desenvolvido pela distorção produzida pelos monopólios, e que responsabilizava principalmente o governo. Tucker, influenciado por Josiah Warren e a teoria do valor-trabalho, considerou que a propriedade da terra era justificável somente quando o proprietário estava usando a mesma. O último, ao contrário de seu predecessor Lysander Spooner que tradicionalmente era "Lockeano" em relação à propriedade privada da terra (apropriação original). Tucker mais tarde abandonou sua ideia de propriedade da terra e diria que ela é legitimamente transferida pela força, a menos que especificado por contrato. Como Spooner, Tucker atacou os monopólios criados pelo Estado; sem um Estado, cada pessoa poderia exercer o seu direito de proteger sua própria liberdade, usando os serviços de uma associação de proteção privada, se necessário. Tucker antecipou a ideia da qual, mais tarde, ele aprofundaria o anarquismo-capitalismo: essa defesa é um serviço como qualquer outro, um trabalho e uma mercadoria sujeitos à lei da oferta e da procura, que a concorrência prevalece, o patrocínio será para quem oferece o melhor produto ao preço mais razoável e que a produção e venda desta mercadoria agora é monopolizada por um estado que, como um monopolista, cobra preços exorbitantes por um serviço precário. Ele observou que o anarquismo que ele propôs incluiu prisões e forças armadas. Tucker também lançou a ideia da possibilidade de agências governamentais financiadas por "impostos voluntários". Críticas. Do minarquismo. Uma crítica bem conhecida do anarquismo de livre mercado é feita por Robert Nozick, que argumentou que um sistema jurídico competitivo evoluiria para um governo de monopólio, mesmo sem violar os direitos individuais no processo. Vários anarquistas do mercado como Roy Childs ou Murray Rothbard rejeitaram a conclusão de Nozick (embora Childs, posteriormente, rejeite o anarquismo). Estado, justiça e defesa. É argumentado que o anarcocapitalismo não se livra de fato do Estado, mas que "simplesmente substitui o estado por empresas de segurança privada, e dificilmente podem ser descritos como anarquistas como o termo é normalmente entendido".   Em "Libertarianism: Bogus Anarchy", o anarquista Peter Sabatini ao se discordar do sentido anárquico do anarcocapitalismo observa que:Dentro do libertarianismo, Rothbard representa uma perspectiva minoritária que realmente defende a eliminação total do estado. No entanto, a afirmação de Rothbard como anarquista é rapidamente anulada quando se mostra que ele só quer o fim do estado público. Em seu lugar, ele permite inúmeros estados privados, com cada pessoa fornecendo sua própria força policial, exército e lei, ou então comprando esses serviços de vendedores capitalistas. ... Rothbard não vê nada de errado com a acumulação de riqueza, portanto aqueles com mais capital inevitavelmente terão maior força coercitiva à sua disposição, assim como agora. A discussão de "Anarquia, Estado, e Utopia" argumenta que uma sociedade anarcocapitalista inevitavelmente se transformaria em um Estado através do eventual surgimento de uma defesa privada monopolista e uma agência judicial que não enfrenta mais concorrência. Direitos e liberdade. Direitos negativos e positivos são direitos que obrigam a algo (direitos positivos) ou proibem algo (direitos negativos). Os anarcocapitalistas acreditam que os direitos negativos devem ser reconhecidos como legítimos, mas os direitos positivos devem ser rejeitados como uma intrusão.Alguns críticos rejeitam a distinção entre direitos positivos e negativos. A definição anarco-capitalista de liberdade é inteiramente negativa. Ele solicita a ausência de coerção, mas não pode garantir a liberdade positiva da autonomia e independência individuais. Sobre o anarcocapitalismo, o intelectual anarquista e anticapitalista Noam Chomsky diz:O anarcocapitalismo, na minha opinião, é um sistema doutrinário que, se implementado, levaria a formas de tirania e opressão que têm poucas contrapartes na história humana. Não há a menor possibilidade de que suas (na minha opinião, horrendas) ideias sejam implementadas porque destruiriam rapidamente qualquer sociedade que cometesse esse erro colossal. A ideia de "contrato livre" entre o potentado e seu súdito faminto é uma piada de mau gosto, talvez valendo alguns momentos em um seminário acadêmico explorando as consequências de ideias (a meu ver, absurdas), mas em nenhum outro lugar. Economia e propriedade. Grande parte das transações e trocas capitalistas não são voluntárias, e portanto manter a estrutura de classes de uma sociedade capitalista como propõe o anarcocapitalismo requer uma coerção que viola os próprios princípios da vertente "anarquista" do anarcocapitalismo. O conceito anarcocapitalista de escolha voluntária também ignora restrições devido a fatores humanos e não humanos, como a necessidade de comida e abrigo, bem como a restrição ativa de recursos usados e não utilizados por aqueles que impõem reivindicações de propriedade. Se uma pessoa precisa de emprego para se alimentar e se abrigar, a relação empregador-empregado pode ser considerada involuntária. Outra crítica é que o emprego é involuntário porque o sistema econômico que torna necessário que alguns indivíduos sirvam a outros é sustentado pela imposição de relações coercitivas de propriedade privada. Algumas filosofias veem quaisquer reivindicações de propriedade sobre terras e recursos naturais como imorais e ilegítimas. Estabilidade jurídica. Dois dos estudiosos mais proeminentes que dedicaram-se a pensar seriamente sobre as instituições jurídicas essencialmente anarcocapitalistas são Richard Posner, juiz federal de apelações e cientista jurídico prolífico e o economista William Landes. Em seu ensaio de 1975, "The Private Enforcement of Law", discutem um "gedankenexperiment" (experimento mental) anterior realizado por Becker e Stigler, no qual foi proposto que a aplicação da lei fosse privatizada e explicam porque consideram que tal sistema não seria economicamente eficiente. De acordo com uma resposta posterior de David Friedman, "Efficient Institutions for the Private Enforcement of Law". Friedman, no entanto, prossegue argumentando que "a ineficiência que Landes e Posner demonstraram nas instituições privadas de aplicação da lei que descrevem, pode ser eliminada com pequenas mudanças nas instituições". Literatura. Lista parcial de trabalhos essenciais sobre o anarcocapitalismo.
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Anarquismo
"Anarquismo\n\nAnarquismo é uma ideologia política que se opõe a todo tipo de hierarquia e domina(...TRUNCATED)
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Albert Einstein
"Albert Einstein\n\nAlbert Einstein (Ulm, 14 de março de 1879 – Princeton, 18 de abril de 1955) f(...TRUNCATED)
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Aquecimento global
"Aquecimento global\n\nAquecimento global é o processo de aumento da temperatura média dos oceanos(...TRUNCATED)
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Antraz
Antraz

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dataset = load_dataset('pablo-moreira/wikipedia-pt', 'latest')
#dataset = load_dataset('pablo-moreira/wikipedia-pt', '20231001')

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